A
Escritura,
a Tradição
e
o Magistério
são os pilares que sustentam a
fé Católica: A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus inspirada
pelo Espírito Santo, que é conservada e transmitida, ao longo dos
séculos, pela Sagrada Tradição; sendo o Magistério “o único
intérprete autêntico da Palavra de Deus, escrita ou
transmitida”.(1)
A
Igreja Católica funda-se “sobre a Palavra de Deus, nasce e vive
dela”(2).
É
enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da
Liturgia. Porque é a ela que se vão buscar as leituras que se
explicam na homilia e os salmos para cantar; com o seu espírito e da
sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos
litúrgicos; dela tiram a sua capacidade de significação as ações
e os sinais.(3)
Na
Sagrada Escritura, a Igreja encontra continuamente o seu alimento e a
sua força(4).
Tal como venera o Corpo do Senhor, “a Igreja sempre venerou as
divinas Escrituras” . Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão
da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de
Cristo(4)
A
Sagrada Tradição, por sua vez, conserva integralmente a Palavra de
Deus, confiada aos Apóstolos(4).
E a transmite a todas as gerações, seja por sua doutrina, por sua
vida, por seu culto(5).
Contudo, ela não é a simples transmissão material de quanto foi
doado no início aos Apóstolos, mas é a presença eficaz do Senhor
Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito
a comunidade por ele reunida.(6)
O
Papa Emérito Bento XVI destaca esse papel do Espírito Santo na
condução da Igreja:
É
interessante observar
que, enquanto em alguns trechos se diz que Paulo estabelece os
presbíteros nas Igrejas (cf. Act 14, 23), noutras partes afirma-se
que é o Espírito quem constitui os pastores do rebanho (cf. Act 20,
28). A acção do Espírito e a de Paulo sobressaem profundamente
compenetradas. No momento das decisões solenes para a vida da
Igreja, o Espírito está presente para a guiar. Esta presença-guia
do Espírito Santo sente-se particularmente no Concílio de
Jerusalém, em cujas palavras conclusivas ressoa a afirmação: "O
Espírito Santo e nós próprios resolvemos..." (Act 15, 28); a
Igreja cresce e caminha "no temor do Senhor e, com a assistência
do Espírito Santo..." (Act 9, 31).(6)
Referindo-se
também a Atos dos Apostolos, a Comissão
Teológica Internacional, considera a vida da primeira comunidade
como fundamental para a Igreja de todos os tempos:
“Eles
mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão
fraterna, à fração do pão e às orações” (At
2,42; cf.Apoc 1,3).
Essa
descrição sucinta, (...) destaca vários aspectos essenciais do
trabalho contínuo do Espírito na Igreja. Já vem traçada uma
antecipação da doutrina e da vida sacramental da Igreja, da sua
espiritualidade e de seu compromisso com a caridade. Tudo isso teve
início na comunidade apostólica, e a transmissão deste estilo
integral de vida no Espírito é a Tradição Apostólica. A lex
orandi (a
regra da oração), a lex
credendi (a
regra da fé) e a lex
vivendi (a
regra de vida) são todos aspectos essenciais dessa Tradição.”(7)
Quando
se fala em Tradição da Igreja Católica, é importante destacar que
o Concílio Vaticano II distingue «Tradição» com T maiúsculo e
as «tradições» com t minúsculo.(7)
A
«Tradição» com T maiúsculo vem dos Apóstolos. Ela transmite o
que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo
Espírito Santo. Ela é diferente das «tradições», com t
minúsculo, “que pertencem a determinados períodos da história da
Igreja, ou a regiões e comunidades específicas, tais como ordens
religiosas ou Igrejas locais específicas.”(7)
Para
esclarecer melhor essa diferença, vejamos alguns exemplos de
Tradição com T maiúsculo, tiradas do Catecismo da Igreja Católica
com a respectiva numeração de seus respectivos parágrafos:
“120.
Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os
escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados.(8)
707.
As
teofanias (manifestações de Deus) iluminam o caminho da promessa,
dos patriarcas a Moisés e de Josué até às visões que inauguram a
missão dos grandes profetas. A Tradição cristã sempre reconheceu
que, nestas teofanias, o Verbo de Deus Se deixava ver e ouvir, ao
mesmo tempo revelado e «velado», na nuvem do Espírito Santo.(9)
721.Maria,
a santíssima Mãe de Deus, sempre virgem, é a obra-prima da missão
do Filho e do Espírito na plenitude do tempo. Pela primeira vez no
desígnio da salvação e porque o seu Espírito a preparou, o Pai
encontra a morada
na
qual o seu Filho e o seu Espírito podem habitar entre os homens. É
neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes lê, em relação
a Maria, os mais belos textos sobre a Sabedoria
(Cf.
Pr
8,
1 – 9, 6; Ecl
24
).(9)
1008.A
morte é consequência do pecado. Intérprete
autêntico das afirmações da Sagrada Escritura (585) e da Tradição,
o Magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa
do pecado do homem.(9)
1031.
A
Igreja chama Purgatório
a
esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta
do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé
relativamente ao Purgatório sobretudo nos concílios de Florença
(...) e de Trento (...). A Tradição da Igreja, referindo-se a
certos textos da Escritura (...) fala dum fogo purificador.(9)
1124.
A
liturgia é um elemento constitutivo da Tradição santa e viva.(10)
2154.
Seguindo o exemplo de São Paulo (Cf. 2
Cor 1,
23 ), a Tradição da Igreja entendeu a palavra de Jesus como não se
opondo ao juramento, quando feito por uma causa grave e justa (por
exemplo, diante do tribunal).(12)
2178.
A
Tradição guarda a lembrança duma exortação sempre actual: «Vir
cedo à igreja. aproximar-se do Senhor e confessar os próprios
pecados, arrepender-se deles na oração [...], assistir à santa e
divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida
[...].(12)
2698.
A Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração
destinados a alimentar a oração contínua. Alguns são quotidianos:
a oração da manhã e da noite, antes e depois das refeições,
a Liturgia das Horas. O Domingo, centrado na Eucaristia, é
santificado principalmente pela oração. O ciclo do ano
litúrgico e as suas grandes festas constituem os ritmos fundamentais
da vida de oração dos cristãos.(13)”
Quanto
às “«tradições», com t minusculo, podem ser teológicas,
disciplinares, litúrgicas ou devocionais.“(8)
Vejamos alguns exemplos:
1.
exemplo
de tradição devocional:
“Em 1480, o dominicano Pe. Felice Fabri descreve, em seu relatório
de viagem, como Maria Santíssima realizava o percurso da Via-sacra:
“partindo do Santo Sepulcro e descendo depois para Jerusalém, pelo
mesmo caminho percorrido por Jesus. E quando ela chega aos lugares
que recordam os episódios de sua dolorosa viagem, como o Getsêmani,
a queda sob a cruz, o encontro com as piedosas mulheres, o pretório
de Pilatos, e a casa de Verônica, ela pára, se ajoelha e reza. Como
se pode notar, o percurso traçado por Pe. Fabri foi realizado de
trás para frente; assim era, portanto, no século XV”.(14)
2.
Um exemplo de tradição litúrgica:
As
tradições litúrgicas ou ritos, actualmente em uso na Igreja, são:
o rito latino (principalmente o rito romano, mas também os ritos de
certas igrejas locais, como o rito ambrosiano ou o de certas ordens
religiosas) e
os ritos bizantino, alexandrino ou copta, siríaco, arménio,
maronita e caldeu. «Fiel à tradição, o sagrado Concílio declara
que a santa Mãe Igreja considera iguais em direito e dignidade
todos os ritos legitimamente reconhecidos e quer que no futuro se
mantenham e sejam promovidos por todos os meios»(11)
As
tradições, com t minúsculo, devem estar sempre abertas à crítica.
Tal crítica procura verificar se uma tradição específica de fato
expressa a fé da Igreja em um determinado lugar e tempo; e busca,
depois, fortalecê-la ou corrigi-la através do contato com a fé
viva de todos os lugares e de todos os tempos. Enquanto que a crítica
à “Tradição Apostólica” em si não é adequada.”(7)
Segundo Padre Paulo Ricardo, “diante dos fatos constantes na
Tradição, o católico deve aceitá-la com a obediência da fé,
pois ela não requer argumentos, faz parte do patrimônio sagrado
(depositum
fidei)
e é necessária para alicerçar o edifício da fé católica.“(15)
Sim,
a Tradição faz parte do "patrimônio
sagrado"(4)
da fé, assim como a Sagrada Escritura. E,
para que se conservasse, íntegro e vivo na Igreja, esse patrimonio,
os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, em comunhão
com o sucessor de Pedro, o Papa, "entregando-lhes o seu próprio
ofício do Magistério",
cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo.” (...)
“Todavia,
este Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas sim ao seu
serviço, ensinando apenas o que foi transmitido por mandato divino
e, com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda
religiosamente e a expõe fielmente”(4)
Quando
o Magistério da Igreja se pronuncia «infalivelmente», declarando
solenemente que uma doutrina está contida na Revelação, não só
se deve crer mas também se aderir profundamente à essa verdade como
divinamente revelada.(19)
Um exemplo desse ato é a declaração da “Assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus”, que foi definida
como dogma de fé. “É, portanto, verdade revelada por Deus, e por
essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer
firme e fielmente”.(16)
“Por conseguinte, todos têm a obrigação de evitar quaisquer
doutrinas contrárias.“(17)
Quando
o Magistério propõe « em modo definitivo » verdades que tocam
questões de fé ou de costumes que, mesmo não sendo divinamente
reveladas, são porém estreita e intimamente conexas com a
Revelação, estas devem ser firmemente aceitas e conservadas.(19)
“Opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar
tais proposições consideradas definitivas.“(17).
Um exemplo de proposta “em modo definitivo” é a reafirmação da
doutrina da ordenação sacerdotal reservada exclusivamente aos
homens, em 29
de Junho de 1998, pela
Congregação
para a Doutrina da Fé, em "Documentos do Magistério sobre a "Professio Fidei".(18)
Quando
o Magistério, mesmo sem a intenção de emitir um ato « definitivo
», ensina uma doutrina para ajudar a uma compreensão mais profunda
da Revelação e daquilo que melhor explicita o seu conteúdo, ou
para evocar a conformidade de uma doutrina com as verdades de fé, ou
enfim para prevenir contra concepções incompatíveis com estas
mesmas verdades, é exigida uma religiosa submissão da vontade e da
inteligência “.(19)
Um exemplo é o documento Dominus
Iesus(20),
da Congregação
para a Doutrina da Fé,
que se propôs a “relembrar e esclarecer algumas verdades de fé “
sobre o diálogo entre a fé cristã e as demais tradições
religiosas.
E,
para servir da melhor forma possível o Povo de Deus, o Magistério
também atua tutelando-o "contra desvios e perdas, e garantindo-lhe a possibilidade objetiva de professar sem erros a fé autêntica, em qualquer tempo e nas diversas situações.”(19),ou intervindo para que "a sã investigação teológica não venha a ser vítima de erros ou ambiguidades"(21), como, por exemplo, o Comentário às Respostas a Questões Relativas a alguns Aspectos da Doutrina sobre a Igreja, da Congregação para a Doutrina da Fé.(21)
Assim,
Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Magistério, são
a base sobre a qual se assenta
a fé da
Igreja
Católica Apostólica Romana.
Estes pilares
se
“unem e se associam de modo que um sem os outros não se mantém, e
todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito
Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas. “(5)