Iniciamos, hoje, uma série de postagens sobre oração. Primeiramente, nesta postagem, teremos a noção conceitual e posteriormente teremos postagens diversas sobre o orar, seus benéficos, sua importância na Igreja, etc., sempre de acordo com a doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana.
O que é
orar? Orar é um ato de
amor, de vontade, de intelecto, no qual se estabelece uma relação com Deus, se fala com Ele.
De amor,
porque abrimos o nosso coração Àquele que nos ama infinitamente.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica(CIC)1, no
parágrafo 2567: "Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a
dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma
resposta.".
De vontade,
porque é "uma resposta decidida da nossa
parte" (CIC 2725)2.
De intelecto porque
orar "é própria da criatura racional"3. Orar
é o ato de voltar a atenção a Deus; de ter consciência dos
próprios atos e reconhecer-se pecador; de tomar consciência
d'Aquele a Quem falamos; de expressar o que há na alma pelo
silêncio, por orações e cânticos de suplica e louvor.
Quais as
formas de oração? O CIC fala em 6 formas:
Bênção -
" é o encontro de Deus com o homem"(CIC
2626)4,
que se faz de "duas formas fundamentais: umas vezes, a
bênção sobe,
levada por Cristo no Espírito Santo, para o Pai (nós O bendizemos
por Ele nos ter abençoado) (Ef 1, 3-14; 2 Cor 1, 3-7; 1 Pe 1, 3-9);
outras vezes, implora a graça do Espírito Santo que, por
Cristo, desce de
junto do Pai (é Ele que nos abençoa) (2 Cor 13, 13; Rm 15, 5-6.13;
Ef 6, 23-24)" (CIC
2627)4.
Adoração - "É
a prostração do espírito perante o «Rei da glória» (Sl 24,
9-10) e o silêncio respeitoso face ao Deus «sempre maior»"(CIC
2628)4.
Petição - é
o ato de pedir. Em "Êxodo
32, 7-14 , "Moisés «fala livremente diante do Senhor». E
fazendo assim «ensina-nos a rezar: sem medo, livremente, até com
insistência». Moisés «insiste, é corajoso: a oração deve ser
assim!».«quando rezamos a Deus, não é um diálogo a dois» mas a
três, «porque sempre em cada oração está presente o Espírito
Santo»"5. Jesus
afirma: "Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e
recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita." (Jo 16,24);
" todo aquele que pede, recebe." (Mt 7,8)". E é na
confiança de Sua Palavra que se faz a oração de petição. Com fé,
esperança e amor, a criatura humana se volta ao Criador em busca de
ajuda, de proteção. A oração de petição é "já um
regresso a Ele."(CIC
2629)4 e
o " pedido de perdão é o primeiro movimento da oração de
petição (...) é o preâmbulo da liturgia Eucarística, bem como da
oração pessoal."(CIC
2631)4.
Intercessão - é
pedir a favor de outrem. "Na intercessão, aquele que ora não
«olha aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros»
(Fl 2, 4), e chega até a rezar pelos que lhe fazem mal (cf. Act 7,
60; Lc 23, 28.34.)"(2635)4.
"A intercessão dos cristãos não conhece fronteiras: «[...]
por todos os homens, [...] por todos os que exercem a autoridade» (1
Tm 2, 1), pelos perseguidores (Cf. Rm 12, 14), pela salvação dos
que rejeitam o Evangelho (Cf. Rm 10, 1)."(CIC
2636)4.
São Tomás de Aquino afirma que "Orar pelos outros é obra de
caridade"6 e
orar pelos inimigos é "é obra de perfeição"6.
Ação
de graças -
é reconhecer que tudo é dom de Deus e agradecer a Ele pelos bens
recebidos, pelas graças alcançadas. "As cartas de São Paulo
muitas vezes começam e acabam por uma ação de graças, e nelas o
Senhor Jesus está sempre presente: «Dai graças em todas as
circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a
vosso respeito» (1 Ts 5, 18); «perseverai na oração; sede, por
meio dela, vigilantes em acções de graças» (Cl 4, 2)."(CIC
2638)4.
Louvor - "é
a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é
Deus! Canta-O por Si próprio, glorifica-O, não tanto pelo que Ele
faz, mas sobretudo porque ELE É. Participa da bem-aventurança dos
corações puros que O amam na fé, antes de O verem na glória. Por
ela, o Espírito junta-Se ao nosso espírito para testemunhar que
somos filhos de Deus (Cf. Rm 8, 16) e dá testemunho do Filho Único
no qual fomos adotados e pelo qual glorificamos o Pai. O louvor
integra as outras formas de oração e leva-as Aquele que delas é a
fonte e o termo: «o único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para
quem nós somos» (1 Cor 8, 6)."(CIC
2639)4.
Como
expressar o orar? " a tradição cristã conservou três expressões principais da vida de oração: a oração vocal, a meditação e a contemplação."(CIC 2699) 2
Oração
vocal - se expressa
mediante palavras,"mentais ou vocais"(CIC
2700)2. "Nós somos corpo e espírito
e experimentamos a necessidade de traduzir exteriormente os nossos
sentimentos. Devemos rezar com todo o nosso ser para dar à nossa
súplica a maior força possível".(CIC 2702)2.
E "esta necessidade corresponde também a uma exigência divina.
Deus procura quem O adore em espírito e verdade e, por conseguinte,
uma oração que suba viva das profundezas da alma. Mas também quer
a expressão exterior que associe o corpo à oração interior,
porque ela Lhe presta a homenagem perfeita de tudo a quanto Ele tem
direito."(CIC 2703)2.
"A oração vocal é, por
excelência, a oração das multidões. Mas até a oração mais
interior não pode prescindir da oração vocal. A oração torna-se
interior na medida em que tomamos consciência d'Aquele «a Quem
falamos»(...). Então, a oração vocal torna-se uma primeira forma
da contemplação."(CIC 2704)2.
Meditação -
busca "compreender o porquê e o como da vida cristã, para
aderir e corresponder ao que o Senhor lhe pede. Exige uma atenção
difícil de disciplinar. "(CIC 2705)2.
Habitualmente, recorre-se à ajuda dum livro e os cristãos não têm
falta deles: a Sagrada Escritura, em especial o Evangelho, os santos
ícones (as imagens), os textos litúrgicos do dia ou do tempo, os
escritos dos Padres espirituais, as obras de espiritualidade, o
grande livro da criação e o da história, a página do «hoje» de
Deus."(CIC 2705)2. "Meditar no que
se lê leva a assimilá-lo, confrontando-o consigo mesmo. Abre-se
aqui um outro livro: o da vida. Passa-se dos pensamentos à
realidade. Segundo a medida da humildade e da fé, descobrem-se nela
os movimentos que agitam o coração e é possível discerni-los.
Trata-se de praticar a verdade para chegar à luz: «Senhor, que
quereis que eu faça?»."(CIC 2706)2. "A
meditação põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e
o desejo. Esta mobilização é necessária para aprofundar as
convicções da fé, suscitar a conversão do coração e fortalecer
a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã dedica-se, de
preferência, a meditar nos «mistérios de Cristo», como na «
lectio divina» ou no rosário."(CIC 2708)2.
Contemplação - é
" um olhar de fé fixo em Jesus, uma escuta da Palavra de Deus,
um amor silencioso.." (CIC 2724).
"Nesta modalidade de oração pode, ainda, meditar-se; todavia,
o olhar vai todo para o Senhor."(CIC 2709)2."
A entrada na contemplação é análoga à da liturgia eucarística:
«reunir» o coração, recolher todo o nosso ser sob a moção do
Espírito Santo, habitar na casa do Senhor que nós somos, despertar
a fé para entrar na presença d'Aquele que nos espera, fazer cair as
nossas máscaras e voltar o nosso coração para o Senhor que nos
ama, de modo a entregarmo-nos a Ele como uma oferenda a purificar e
transformar."(CIC 2711)2. "A
escolha do tempo e duração da contemplação depende duma vontade
determinada, reveladora dos segredos do coração. Não se faz
contemplação quando se tem tempo; ao invés, arranja-se tempo para
estar com o Senhor, com a firme determinação de não Lho retirar
durante o caminho, sejam quais forem as provações e a aridez do
encontro. Não se pode meditar sempre; mas pode-se entrar sempre em
contemplação, independentemente das condições de saúde, trabalho
ou afectividade. O coração é o lugar da busca e do encontro, na
pobreza e na fé. "(CIC 2710)2. É preciso consentir em velar
uma hora com Ele (Mt 26, 40-41)."(CIC 2719)2
Segundo Papa Bento XVI, Maria é
modelo insuperável de contemplação a Cristo:
"O rosto do Filho
pertence-lhe a título especial, porque foi no seu seio que se
formou, assumindo dela também um semblante humano. Ninguém se
dedicou à contemplação de Jesus com tanta assiduidade como Maria.
O olhar do seu coração concentra-se sobre Ele já no momento da
Anunciação, quando O concebe por obra do Espírito Santo; nos meses
seguintes sente pouco a pouco a sua presença, até ao dia do
nascimento, quando os seus olhos podem fixar com ternura materna o
rosto do Filho, enquanto o envolve em faixas e o coloca na
manjedoura. As recordações de Jesus, gravadas na sua mente e no seu
coração, marcaram cada momento da existência de Maria. Ela vive
com os olhos postos em Cristo e valoriza cada uma das suas palavras.
«Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu
coração» (Lc 2, 19), assim apresenta são Lucas a atitude de Maria
diante do Mistério da Encarnação, atitude que se prolongará por
toda a sua existência. Lucas é o evangelista que nos faz conhecer o
Coração de Maria, a sua fé (cf. 1, 45), a sua esperança e
obediência (cf. 1, 38), a sua interioridade e oração (cf. 1,
46-56), a sua adesão livre a Cristo (cf. 1 55). E tudo isto procede
do dom do Espírito Santo que desce sobre Ela (cf. 1, 35), como
descerá sobre os Apóstolos segundo a promessa de Cristo (cf. Act 1,
8). Esta imagem de Maria apresenta-a como modelo de cada crente que
conserva e confronta as palavras e as acções de Jesus, um confronto
que é sempre um progredir no conhecimento d’Ele. Na esteira do
beato João Paulo II (cf. Carta ap. Rosarium
Virginis Mariae) podemos dizer que a recitação do Rosário tem
o seu modelo precisamente em Maria, porque consiste em contemplar os
mistérios de Cristo em união espiritual com a Mãe do Senhor. A
capacidade de Maria de viver do olhar de Deus é, por assim dizer,
contagiosa."11
De onde
brota a oração? "Seja qual for a linguagem da
oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas para
designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às
vezes da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração
(mais de mil vezes). É o coração que
ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será
vã." (CIC 2562)1.
Quais
características deve ter quem ora? Jesus nos ensina
isso em três parábolas do Evangelho de Lucas, que são as
"três parábolas principais sobre a oração" (CIC
2613)2:
"A primeira, a do «amigo
importuno» (Lc 11, 5-13), convida-nos a uma oração persistente:
«Batei, e a porta abrir-se-vos-á». Aquele que assim ora, o Pai
celeste «dará tudo quanto necessitar» e dará, sobretudo, o
Espírito Santo, que encerra todos os dons.
A segunda, a da «viúva
importuna» (Lc 18, 1-8), está centrada numa das qualidades da
oração: é preciso orar sem se cansar, com a paciência da
fé. (...)
A terceira, a do «fariseu e do
publicano» (Lc 18, 9-14), diz respeito à humildade do
coração orante. «Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou
pecador»."
Assim, Jesus, como "bom
pedagogo"(CIC 2607)2,
mostra que as características desejáveis são: persistência,
paciência e humildade.
O que
pedir na oração? Jesus nos ensina que devemos
buscar "em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça e
todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo."(Mt 6, 33).
"Quando, nas nossas orações, pedimos o necessário à
salvação, conformamos a nossa vontade com a de Deus, da qual diz a
Escritura, que quer que todos os homens se salvem.", diz São
Tomás de Aquino7.
Para Santo Agostinho, devemos pedir primeiro o "reino de Deus, como nosso bem" e "os bens temporais, em segundo lugar". Os bens temporais são desejáveis "enquanto conservam a saúde do corpo e servem para mantermos o estado conveniente à nossa pessoa, de modo a não ser penosa para os outros a nossa convivência. Por onde, quando os temos, devemos orar para não os perdermos; e quando não os temos, para que os consigamos"(apud
8)
Por quem orar? São Tomás de Aquino nos instrui que "devemos desejar o bem, não só para nós, mas também para os outros (...) a caridade exige que oremos pelos outros"9.
Segundo São João Crisóstomo, "A necessidade obriga a orarmos por nós; e a orar pelos outros a caridade fraterna nó–la exorta. Ora, perante Deus, é mais doce a oração que não se funda na necessidade, mas se inspira na caridade fraterna."(apud
9).
Deus pode nos negar o pedido? São Tomás de Aquino afirma que "pode acontecer às vezes, que a oração feita em benefício de outrem, mesmo se for pia, perseverante e pedir o que lhe respeita à salvação, não consiga o que pede, por causa de algum impedimento por parte daquele por quem oramos, conforme àquilo da Escritura: Ainda que Moisés e Samuel; se pusessem diante de mim, não está a minha alma com este povo."9
Quais os lugares favoráveis à oração? O Catecismo, parágrafo 269110, dá a resposta:
"A igreja,
casa de Deus, é o lugar próprio da oração litúrgica para a
comunidade paroquial. É também o lugar privilegiado para a adoração
da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. (...)
– para
a oração pessoal, pode servir um «recanto
de oração»,
com a Sagrada Escritura e ícones (imagens) para aí se estar «no
segredo» diante do Pai (Mt 6, 6). Numa família cristã, este gênero
de pequeno oratório favorece a oração em comum;
– nas
regiões onde existem mosteiros,
tais comunidades estão vocacionadas para favorecer a participação
dos fiéis na Liturgia das Horas e permitir a solidão necessária
para uma oração pessoal mais intensa (II Concílio do Vaticano,
Decr. Perfectae caritatis, 7: AAS 58 (1966) 705);
– as
peregrinações evocam a nossa marcha na terra para o céu. São
tradicionalmente tempos fortes duma oração renovada.
Os santuários são,
para os peregrinos à procura das suas fontes vivas, lugares
excepcionais para viver «em Igreja» as formas da oração cristã."
Quando
orar? "Tiago (Tg 1, 5-8) e
Paulo nos exortam a orar em
todas as ocasiões (Ef 5, 20; Fl 4,
6-7; Cl 3, 16-17; 1 Ts 5, 17-18)."(CIC
2633). "A Tradição da Igreja propõe
aos fiéis ritmos de oração destinados a alimentar a oração
contínua. Alguns são quotidianos: a oração da manhã e da noite,
antes e depois das refeições, a Liturgia das Horas. O Domingo,
centrado na Eucaristia, é santificado principalmente pela oração.
O ciclo do ano litúrgico e as suas grandes festas constituem os
ritmos fundamentais da vida de oração dos cristãos."(CIC
2698)2.
Assim,
o " O Senhor conduz cada pessoa pelos caminhos e da maneira que
Lhe apraz. Por seu turno, cada fiel responde-Lhe conforme a
determinação do seu coração e as expressões pessoais da sua
oração."(CIC 2699)2.
Na próxima postagem, veremos que o livro do Salmos é um livro que nos ensina a orar com as Palavras de Deus.
Nota
10.Catecismo
da Igreja Católica, parágrafos 2650-2696. disponível em: