30 agosto 2017

A verdade em ser Igreja





PAPA SÃO JOÃO PAULO II


São João Paulo II: “Devemos defender a verdade a todo custo, mesmo que voltemos a ser somente doze.”




PAPA BENTO XVI


Jornalista: "O senhor está preocupado com a perda de fiéis pela Igreja nos últimos anos?”

Papa Bento XVI: “A Igreja não perdeu nenhum fiel. Aqueles que se foram nunca foram fiéis católicos realmente. Não se pode perder o que nunca se teve. Os que deixaram a Igreja eram indecisos, curiosos ou pessoas que estavam apenas ‘cumprindo uma obrigação’ passada por seus pais ou avós. Os que vêm e vão não pertencem ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja na Terra. Da mesma maneira, os que são católicos mas ainda não estão na Igreja, infalivelmente chegarão ou retornarão a ela no devido tempo. A Igreja, Casa e Família de Deus, surgiu como um pequeno grupo; não importa a quantidade, e sim a qualidade dos seus filhos, como cristãos conscientes e santificados.”






29 agosto 2017

Literatura, cultura e a alma ocidental



No mundo atual, entrar na Ortodoxia é como se converter da mediocridade para a plenitude, da superficialidade para a profundidade, da impostura para uma realidade tão rica e tão vasta que, às vezes, ficamos na dúvida se é possível que a Igreja e o mundo “real” possam existir juntos e ao mesmo tempo.
Esta conversão ocorre não sem certo desconforto, pois a conciliação dos aspectos exteriores da vida moderna com o pensamento profundo e interior da Ortodoxia parece-nos algo impossível. A Ortodoxia se apresenta a nós como uma realidade muito mais intensa e transcendente. Esta impressão origina-se do fato de que quase sempre trazemos conosco uma parte da mediocridade, da superficialidade e da impostura da vida moderna. Esta superficialidade aos poucos corrói a vida espiritual -- a despeito de nossas boas intenções --, e em pouco tempo chegamos à conclusão de que há algo de muito errado conosco.
No entanto, quem acha que todas as coisas ocidentais são ruins está muito enganado. Viver pensando desse jeito é simplesmente impossível. Somos ocidentais: afinal, nossas almas foram forjadas pela psicologia e pela mentalidade ocidental. O esforço freqüentemente doloroso de conhecermos a nós mesmos só poderá ser bem-sucedido se compreendermos as forças que nos moldaram.
Ao invés de ficarmos fugindo de nossa própria cultura, ou de tentarmos negar o poder que ela exerce em nós, seria muito melhor se a encarássemos com honestidade e sinceridade a fim de compreendermos sua essência e origem. Este é o primeiro passo para a formação de uma cosmovisão ortodoxa, e esta é a tarefa número 1 que nos aguarda. Se lograrmos êxito nessa tarefa, então seremos capazes de distinguir aquilo que é culturalmente útil daquilo que é culturalmente desprezível. Talvez ainda mais importante do que isso, seremos capazes de alcançar o autoconhecimento, ou seja, de alcançarmos a profundidade de alma que nos permitirá vislumbrar o caminho para que nos tornemos bons cristãos.
Na verdade, não herdamos a cultura ocidental coisa nenhuma. Este é o grande problema. Nós fomos educados e aculturados nas ruínas dessa cultura. Não vivemos no Ocidente, mas na memória pálida e moribunda do Ocidente. A “cultura” contemporânea é uma cultura inexistente, um vácuo que contrai a alma e asfixia o espírito. Antes de tentar mergulhar o espírito nas águas profundas da Ortodoxia, o homem contemporâneo faria melhor se primeiro nutrisse sua alma, pois a má-nutrição paralisa toda e qualquer tentativa de desenvolvimento espiritual. O homem ocidental moderno é como uma planta de raízes superficiais: ela jamais conseguirá crescer de maneira vigorosa e sustentável. O espírito do homem moderno é incapaz de se elevar, pois um espírito elevado exige uma alma profunda, que tenha maturidade e sensibilidade suficientes para perceber a nobreza das coisas e para ser enobrecida por elas.
Os Padres sempre ensinaram que a parte mais elevada e espiritual da natureza humana funda-se sobre o primeiro nível da alma, que é justamente o nível que melhor responde aos estímulos produzidos pelas coisas virtuosas, nobres e belas. As capacidades humanas, distorcidas pela Queda, devem ser restauradas à sua normalidade, e somente depois que essa normalidade estiver restabelecida é que conseguiremos progredir nas coisas espirituais. A “percepção superior”, que São João Clímaco chamava de “atributo” da alma, é “esbofeteada” pelo pecado, e por isso temos de nos treinar melhor. O redirecionamento e a elevação da alma é a tarefa essencial de todos os cristãos ortodoxos.
Ao contemplar o belo e o nobre contidos nas obras de arte, o cristão terá a chance de restabelecer em si a sensibilidade para um tipo muito especial de ternura e de simpatia. A inclinação para o belo e para o nobre vem de Deus, mas essa capacidade foi obscurecida pela própria negligência humana. O crescimento espiritual autêntico só será possível depois que o primeiro nível da alma tiver sido elevado e purificado. Do contrário, será extremamente difícil atingir a sobriedade, a fertilidade, a autenticidade e a profundidade na vida espiritual. A alma incultivada raramente possui o discernimento e o equilíbrio para enxergar com clareza e honestidade, nem a sensibilidade para sentir com profundidade, nem a inspiração para esforçar-se intensamente, nem o idealismo para alcançar incondicionalmente o que há de melhor e mais verdadeiro. A sensibilidade e a intensidade não são em si atributos espirituais. No entanto, servem de prelúdio às coisas espirituais.
É psicologicamente impossível que, de uma hora para outra, nos tornemos “não-ocidentais”, mesmo que isso fosse uma coisa desejável. A rejeição pura e simples dos frutos de centenas de anos de cultura cristã, na esperança de escaparmos da mácula do “ocidentalismo”, é uma postura intelectualmente irresponsável. A recusa em nos nutrirmos daquilo que é edificante e elevado inevitavelmente implicará em nos nutrirmos daquilo que não é edificante nem elevado: a cultura pop americana, repleta de superficialidade e falsidade, infiltra-se dia após dia em nossos corações desprotegidos. Se não reagirmos, se recusarmos a escolher as coisas sublimes, então nossas almas serão inapelavelmente asfixiadas pelo artificialismo e pela baixeza. Seremos perpetuamente contaminados pela imundície mortal do mundo -- e por nossa própria imundície --, e jamais seremos capazes de tocar o fundo de nossos corações, nem responder as necessidades de nossos próximos.
Observe o exemplo da Igreja primitiva. Quando a Igreja denunciava a cultura pagã, ela denunciava somente os aspectos que se fundavam no demonismo da religião pagã e no hedonismo da arte pagã. No entanto, os aspectos da cultura helênica que eram úteis e saudáveis não foram rejeitados e denunciados pela Igreja, mas, pelo contrário, foram transmutados por ela em declarações missionárias profundamente convincentes.
Ontem como hoje, muitas pessoas negavam que a arte e a cultura seculares poderiam ser utilizadas como instrumentos para cultivar e educar a alma, e o faziam lançando mão da exortação do Apóstolo: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Os Padres da Igreja, ao lidarem com esta questão, formularam a resposta que se tornaria a postura ortodoxa por excelência, a resposta registrada nas obras de homens como São Clemente de Alexandria, São Basílio e São João Damasceno.
Em seu Stromateis, São Clemente ensina que a exortação do Apóstolo aplica-se somente aos casos em que a pessoa abandona as coisas espirituais para abraçar as coisas do mundo, ou seja, quando ela abandona a verdade altíssima do Cristo para abraçar a verdade parcial da cultura secular, pois “a filosofia é extremamente rudimentar se comparada ao Cristianismo, e serve tão-somente de treino preparatório para a verdade”. (Stromateis, VI, 7).
É bem verdade que os estudos da poesia, da história, da arte e da ficção são “extremamente rudimentares”. Não são estudos espirituais. Mas nós, inseridos na realidade do mundo moderno, precisamos demais desses rudimentos; precisamos não apenas de vida espiritual, mas de humanidade pura e simples. O Apóstolo exorta-nos a não confundirmos a vida inferior da alma com a vida superior do espírito, e pede para que não abandonemos a plenitude do Cristo para abraçarmos a vacuidade do mundo. Porém, notem que ele não pede para ignorarmos o desenvolvimento da alma.
São Clemente não foi o único que percebeu a necessidade e a utilidade de coisas tão “mundanas” como a poesia. São Basílio, em seu “Discurso aos jovens sobre o uso correto da literatura grega”, demonstra claramente a relevância da cultura secular para a vida espiritual:
"Devemos depositar nossas esperanças nas coisas transcendentes; preparem-se para a vida eterna fazendo aquilo que nós fazemos. As Escrituras apontam para a vida eterna; elas ensinam com palavras divinas. Porém, na medida em que nossa imaturidade nos impede de entender seus [das Escrituras] pensamentos profundos, exercitemos nossas percepções espirituais com obras seculares, as quais não são completamente distintas [das Escrituras] e nas quais percebemos a verdade como em sombras e espelhos... Conseqüentemente, devemos conversar com os poetas, com os historiadores, com os oradores, em verdade, com todos os homens que possam auxiliar a salvação de nossas almas... [Devemos] preservar os recursos, sem deixar de revirar nenhuma pedra...de onde devemos extrair toda ajuda... A virtude é o único e verdadeiro tesouro, o tesouro que permanece conosco na vida e na morte, [e] já que temos de alcançar a vida futura mediante a virtude, nossa atenção deve apegar-se aos trechos das obras dos poetas, dos historiadores e especialmente dos filósofos nos quais a virtude é enaltecida, [pois] aqueles que foram instruídos nos exemplos pagãos não considerarão impraticáveis os preceitos cristãos... Portanto, nós devemos agir com sabedoria e extrair dos livros pagãos tudo aquilo que é benéfico e aliado da verdade, e ignorar o resto".
Similarmente, São João Damasceno, na Exposição da Fé Ortodoxa, exorta aos cristãos ortodoxos que têm “sede de conhecimento” a “deleitarem-se” nas Escrituras, “pois [elas] contêm a graça que jamais se exaure. Porém, se somos capazes de lucrar com outras fontes, então isto não nos será proibido. Sejamos, pois, bons banqueiros: coletemos o ouro puro e genuíno e rejeitemos o que é espúrio. Aceitemos as boas doutrinas, mas atiremos aos cães os deuses ridículos e as fábulas insanas, pois daquelas extrairemos grande força contra estas”. (Iv. 17)
Adotando, pois, esta postura, a Igreja batizou a cultura pagã; os dejetos foram expurgados e o restante foi elevado. Essa cultura batizada era precisamente a cultura ocidental. Por onde a Igreja passou na Europa, ela sempre adotou esta mesma postura. Na Irlanda ou na Gália, na Bretanha ou na Espanha, a Igreja preservou tudo o que era bom e verdadeiro nas artes e na literatura popular, na natureza e na sociedade. A cultura pagã da Europa pré-cristã encontrou no Cristo a realização para suas mais sublimes aspirações, e foi assim que a Europa floresceu.
Por conseguinte, gerações de homens e mulheres desenvolveram suas mais profundas aspirações construindo, cantando, criando e vivendo. Eles regozijaram-se em Deus, nas maravilhas de Suas obras e de Seu mundo, e o legado que nos deixaram manifestam essa alegria. Eles criaram uma época cujas maravilhas e belezas estão praticamente esquecidas, onde a poesia corria solta no sangue e a castidade não era vergonhosa, mas corajosa, onde o escárnio e a superficialidade não eram sinais de fortaleza e as lágrimas não eram sinônimo de fraqueza, um mundo gentil e cortês, honrado e preciso, nobre e íntegro.
Este era o nosso mundo. A imundície da publicidade e das novelas nem sempre fez parte do mundo. Houve um tempo em que o júbilo, a nobreza e a alegria faziam parte do mundo ocidental. Se formos incapazes de enxergar esses aspectos, então jamais conheceremos a nós mesmos. Se não enxergarmos a objetividade bela e cristalina da mente medieval -- por exemplo, a visão profunda e humilde que tinham do cosmo como um grande baile real --, e tivermos olhos tão-somente para as provas de Anselmo e para a auto-exaltação papal, daremos a demonstração mais cabal possível do entorpecimento de nossos corações. O homem medieval contemplava o céu noturno e chorava, sentindo-se enclausurado nas duplas trevas da separação física e moral de Deus. Mas ele também acreditava que as estrelas eram buracos no chão do céu: aqueles pontos de luz vinham de um mundo onde o dia era perpétuo e onde todas as coisas dançavam jubilando-se pela criação e brilhando na luz imutável de Deus.
O homem medieval valorizava a hierarquia porque, para ele, a hierarquia era uma lembrança de Deus. O mundo inteiro era como que um desvelamento incessante, uma alegoria intrincada da majestade e do amor de Deus. Ele exultava-se em júbilo na obediência e caminhava temeroso na humildade da autoridade, porque ambas eram imagens de profundas realidade espirituais. Ele alegrava-se pelas cores e pela beleza do mundo físico, porque elas eram prenúncios dos esplendores ainda maiores do Reino de Deus.
Ele poderia empenhar sua vida inteira na construção de uma catedral, e jamais se esquecer da transiência do mundo temporal. A literatura, a didática, a moral, tudo o fazia lembrar da beleza da virtude e da nobreza e da brevidade da vida. A poesia entoava o esplendor do mundo criado e o temor de Deus. A sociedade lhe ensinava a sentir a realidade e a proximidade do reino espiritual de maneira quase tão intensa quanto o mundo físico. As igrejas – resplandecentes, delicadas, formosas – elevavam a alma e o espírito a grandes alturas.
O ímpeto apostólico impulsionou este mundo por quase mil anos. O alimento fornecido por mil anos de Ortodoxia formaram a base espiritual sobre a qual cresceram tudo o que há de melhor na arte e na cultura ocidentais. Esse ímpeto permaneceu praticamente intacto até o Iluminismo, mas foi intensamente corroído durante a Era Romântica e, por fim, ruiu inteiramente em nossa época. O que de melhor foi feito, foi feito neste espírito e vem deste mundo. A comunidade de sentimentos e intenções que marcam os melhores escritores, artistas e músicos vem desta fonte. A despeito das mudanças sociais, políticas e religiosas, Shakespeare e Dickens, Bach e Mozart, Donne e Hugo compartilham deste mundo, e é para este mundo que os cristãos ortodoxos devem se voltar a fim de moldarem suas almas. Há lições que temos de aprender com o passado antes que possamos alimentar esperanças quanto ao futuro.
Os Padres recomendavam o estudo das artes e letras pagãs como instrumentos para treinar a alma. Nós, que temos a nosso dispor os produtos da cultura ocidental fundados no Cristianismo, não apenas não devemos temer o uso destes produtos, mas não temos desculpas para ignorá-los. Pensar que tudo o que é ocidental é ipso factosuspeito revela uma profunda insegurança, um legalismo mais rígido do que qualquer seita, um escolasticismo mais árido do que qualquer summa.
Temos de recuperar os sentimentos e sensibilidades que outrora fizeram parte de todos os povos civilizados. As obras de arte, a literatura e a música pré-modernas portam valores essenciais para nós. Elas podem nos ensinar coisas que nada do que se produz hoje poderia nos ensinar: o que é nobreza, o que é virtude, o que é honra, o que é pureza, o que são sacrifício e lealdade, o que é digno e o que não é. Poesia, música, arte, ficção: nada disso é alimento espiritual, mas tudo isso é leite e pão de que precisamos a fim de ganharmos força para vivermos da carne do espírito.
A visão, o som e a sensação do sublime são coisas que perdemos. Para recuperá-las, devemos retornar a um tempo onde a moral nebulosa e arenosa ainda não havia dominado o mundo: um tempo onde a visão do homem ainda era suficientemente clara e sua alma suficientemente apurada. Se não dominarmos os planaltos da alma, dificilmente conseguiremos alcançar os píncaros do espírito. Embrutecidos pelo zunido e pela cacofonia moral do mundo, os corações permanecem frios e as consciências entorpecidas. Estamos insensíveis à piedade, à honra, à nobreza, à pureza, porque quase nunca as vemos. Até mesmo pela beleza não somos mais movidos, uma vez que já nem mais sabemos o que é beleza. Assim como a maioria dos termos de valor, “beleza” tornou-se uma palavra vazia, sem conteúdo, desprovida de sentido absoluto. Hoje em dia, beleza é aquilo que nós gostamos, ou o que quer que nos digam que é bonito. A arte passou a ser aquilo que decidimos que é arte. Já não podemos mais dizer que um monte de calotas enferrujadas e canos retorcidos não é “arte” da mesma maneira que Rembrandt é “arte”.
A apreciação artística tornou-se algo inteiramente pessoal apenas recentemente. A beleza, assim como os demais aspectos da arte, era outrora um aspecto da Verdade absoluta, que era Deus. Portanto, uma coisa era bela proporcionalmente à fidelidade com que refletia alguma parte da imagem e da verdade de Deus. Ora, como o coneito de Verdade está totalmente perdido, não mais somos capazes de expressas o conceito verdadeiro de Beleza, e nutrimo-nos de mediocridade, feiúra, de anti-beleza, anti-heroísmo, anti-arte, daquilo que zomba Deus e o homem.
Temos de reaprender o que é beleza. Temos de aprender a sermos arrebatados pelo furor de uma fuga, a sermos enebriados pela loucura de Lear, a sermos consumidos pela sanidade de Quixote. Temos de ser renovados pela saúde e caridade de Dickens, iluminados pela clareza e pela percepção de Hugo, fortalecidos pela gravidade sóbria e pela esperteza oblíqua de Johnson, tocados pelo fogo de Donne, tranquilizados pela flora primaveril de Chaucer.
Temos de sentir de novo a dor da saudade, a alegria amarga de quase tocar, mas nunca apreender, de quase ouvir, mas nunca compreender Aquele cuja Beleza torna a arte bela. Em seu sentido mais profundo e verdadeiro, é exatamente isto o que a arte faz: precisamos dela precisamente porque ela nunca sacia. Ela sempre estimula a sede, ela sempre nos lembra da fome que nunca é saciada. Ela nos leva aos pontos mais altos da experiência humana, para depois nos deixar com saudades não sabemos exatamente do quê. Neste ponto, o espírito estará pronto para prosseguir, para encontrar seu verdadeiro lar em Deus. A alma inculta, informe, não sentirá a verdadeira profundeza e dor da saudade, nem saberá como remediá-la. Se quisermos sentir fome e sede suficientes para buscar a Deus com diligência e comprometimento, temos de moldar a alma com cuidado e persistência.
E temos de moldar as almas de nossos filhos. A criança que nasce e cresce nos dias de hoje encontra-se em desvantagem ainda maior do que seus pais. Sem o esforço e a preocupação constantes, os pais não conseguirão evitar que seus filhos cresçam aleijados de alma e atrofiados de espírito. É importante que os adultos lutem pela elevação e pela pureza de suas almas; ainda mais urgente é instilar o idealismo, a agilidade espiritual, a simplicidade e a amabilidade nas almas das crianças. As crianças que são criadas em meio à boa música, boa leitura e boa arte desenvolverão a genuinidade instintiva, a acuidade do ouvido espiritual, as quais serão valiosíssimas para suas vidas. Elas não serão enganadas pela futilidade, e jamais se esquecerão das imagens de pureza, cavalheirismo, integridade e beleza que ganharam quando leram e ouviram aquilo que de melhor o coração e a mente humana puderam produzir. Quando suas almas forem bem formadas, elas serão capazes de resistir às muitas ilusões e divertimentos tolos que os aguardam pelo mundo afora.
Se quisermos servir a Deus de todo o coração e mente e alma, temos de garantir que nossas almas sejam verdadeiras e retas, que sejam bem treinadas para pelo menos reconhecer a nobreza e a integridade, mesmo que a debilidade da carne impeça que as pratiquemos. Portanto, é o ensinamento ortodoxo das necessidades da alma que demonstra a utilidade espiritual da cultura e da literatura.

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FONTE:

St. Xenia Skete, The Orthodox Word, Vol. 19, nº 1 e 2, 1983, St. Herman of Alaska Brotherhood, Platina, CA, EUA.

Extraído de: «The Intellectual Life» e https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/literatura-cultura-e-a-alma-ocidental.html e http://avidaintelectual.blogspot.com.br/2010/06/literatura-cultura-e-alma-ocidental.html

16 agosto 2017

ORAÇÃO DE UM BRASILEIRO





SENHOR,

TENHA PIEDADE DE MIM

QUE PODERIA TER ESTUDADO MAIS

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA NA JUVENTUDE TER PODIDO CONHECER MAIS MEU PAÍS

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER PROCURADO CONHECER AS FALSAS LIDERANÇAS DO MEU PAÍS

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER DENUNCIADO TODOS AQUELES QUE IMPEDIRAM SORDIDAMENTE NOSSO DESENVOLVIMENTO EM TODAS AS ÁREAS.

TENHA PIEDADE DE MIM


DEVERIA TER TRABALHADO INCANSAVELMENTE CONTRA TODOS OS TRAIDORES DESSA NAÇÃO

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER ME DEDICADO MAIS EM DIVULGAR PARA O POVO A REALIDADE DO MEU PAÍS

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA PRECOCEMENTE TER CRIADO UMA RESISTÊNCIA POLÍTICA PATRIÓTICA CONTRA O ESBULHO DA NAÇÃO

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER TRABALHADO PARA ESPURGAR OS ALIENÍGENAS DE NOSSA NAÇÃO

TENHA PIEDADE DE MIM

JAMAIS DEVERIA DAR ESPAÇO AOS TRAIDORES DA PÁTRIA

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER CONHECIMENTO E DENUNCIADO HÁ MUITO MAIS TEMPO OS MÉTODOS DE DOMINAÇÃO DO NOSSO POVO E QUEM OS PRATICOU E PRATICA.

TENHA PIEDADE DE MIM

DEVERIA TER DENUNCIADO OS SETORES DAS IGREJAS, SOCIEDADE E MEIOS DE COMUNICAÇÃO COVARDES QUE PRATICARAM E PRATICAM O CONHECIMENTO NEGADO AO POVO.

PERDÃO SENHOR ,

TENHA PIEDADE DE MIM

ME AJUDE A FAZER COM COMPETÊNCIA TUDO O QUE DEIXEI DE FAZER E AFASTE OS ÍMPIOS E TRAIDORES DO MEU CAMINHO, PARA QUE UM DIA MEUS FILHOS E NETOS TENHAM A HONRA DE DIZER QUE SÃO BRASILEIROS.



DR. RONALDO D. FONTES, MÉDICO.



15 agosto 2017

Quaresma de São Miguel



Já fizemos várias postagens sobre a quaresma de São Miguel nos anos anteriores. Recomendamos que vejam aqui neste link: http://www.missaocefas.org/search?q=quaresma+de+s%C3%A3o+miguel

A Quaresma de São Miguel Arcanjo tem 40 dias e pode ser rezada durante todo o ano, porém é de costume rezá-la de forma especial do dia 15 de agosto, até o dia 29 de setembro participando da Santa Missa na Festa de São Miguel.

Nesta postagem vou republicar as orações e fazer uma proposta.

PROPOSTA

Além das orações comuns de sempre, gostaria de propor para a quaresma deste ano a leitura diária de um texto para reflexão e meditação. E o texto que vou propor é a leitura da vida de São Padre Pio. Lembremos que Padre Pio conversava diariamente com os anjos, inclusive São Miguel. A origem da quaresma é franciscana, a mesma congregação de Padre Pio, criada por São Francisco de Assis. Então, ao meditar a vida do Padre Pio, suas experiências místicas, sofrimento e milagres, estaremos dentro do mesmo carisma.

Então sugiro a oração do dia e a meditação de um trecho da vida do Padre Pio que estamos publicando diariamente no blog: https://gospepio.blogspot.com.br/

Vou criar no blog lá uma página para facilitar o acesso às orações da quaresma.


ORAÇÕES

A primeira coisa a fazer e não encarar a Quaresma como uma oração supersticiosa, mas como uma poderosa oração de libertação, sobretudo dos pecados e vícios. Antes de começar a Quaresma, analise os propósitos que estão te levando a fazer esta Quaresma, e possível, ao longo dela busque a confissão.

1. O Altar - Na Quaresma de São Miguel Arcanjo, costuma-se fazer um pequeno altar ou oratório com a imagem de Arcanjo (pode ser uma foto também) e se possível no momento da oração acenda uma vela (que simboliza a luz de Cristo). (NÃO É OBRIGATÓRIO).

2. Jejuns e penitências - Durante o período desta oração (40 dias), é indicado que cada pessoa faça uma penitência (abster-se de algo de comer, do cigarro, da bebida, ou até da televisão) e buscar o jejum ao menos às sextas-feiras, dia que a Igreja aconselha a prática.



SÃO MIGUEL ARCANJO

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós príncipe da milícia celeste, pelo Divino Poder, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.


Sobre esta oração:
Depois de receber em 1884 uma visão terrível de forças diabólicas prestes a serem soltas na Terra, o Papa Leão XIII escreveu de próprio punho a oração a São Miguel, ordenando que ela fosse recitada logo em seguida a todas as Missas rezadas no rito latino. A oração ao Arcanjo tornou-se parte das chamadas "orações leoninas", as quais foram deixadas de lado pela reforma litúrgica da década de 1960. Em 1994, porém, o Papa São João Paulo II fez notar a ausência dessa oração e pediu que ela fosse novamente recitada pelos fiéis: "Ainda que hoje essa oração não seja mais recitada ao término da celebração eucarística, convido todos a não esquecê-la, mas a recitá-la para obter a ajuda na batalha contra as forças das trevas e contra o espírito deste mundo."






AUGUSTA RAINHA DOS CÉUS

Augusta Rainha dos céus, soberana mestra dos Anjos, 
Vós que, desde o princípio, recebestes de Deus 
o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, 
Nós vo-lo pedimos humildemente, 
Enviai vossas legiões celestes para que, 
sob vossas ordens, e por vosso poder, 
Elas persigam os demônios, combatendo-os por toda a parte, 
Reprimindo-lhes a insolência, e lançando-os no abismo. 
Quem é como Deus? 
Ó Mãe de bondade e ternura, 
Vós sereis sempre o nosso Amor e a nossa esperança. 
Ó Mãe Divina, 
Enviai os Santos Anjos para nos defenderem, 
E repeli para longe de nós o cruel inimigo. 
Santos Anjos e Arcanjos, 
Defendei-nos e guardai-nos. Amém.


Sobre esta oração:
No dia 13 de Janeiro de 1864, o Bem-aventurado Padre Luís-Eduardo Cestac foi subitamente atingido por um raio da luz divina. Ele viu demônios espalhados por toda a terra, causando uma imensa confusão. Ao mesmo tempo, ele teve uma visão da Virgem Maria. Nossa Senhora lhe revelou que realmente o poder dos demônios fora desencadeado em todo o mundo e que então, mais do que nunca, era necessário rezar à Rainha dos Anjos e pedir a ela que enviasse as legiões dos santos anjos para combater e derrotar os poderes do inferno.
“Minha Mãe", disse o padre, “vós sois tão bondosa, por que então não enviais por vós mesma estes anjos, sem que ninguém vos peça?"
Não", respondeu a Santíssima Virgem, “a oração é uma condição estabelecida pelo próprio Deus para a obter esta graça."
“Então, Mãe santíssima – disse o sacerdote – ensinai-me como quereis que se vos peça!"
Foi então que o Bem-aventurado Luís-Eduardo Cestac recebeu a oração “Augusta Rainha dos céus". “Meu primeiro dever – disse ele – era apresentar esta oração a Monsenhor La Croix, bispo de Bayonne, que se dignou a aprová-la. Cumprido este dever, fiz imprimir 500.000 cópias, e providenciei que fossem distribuídas em todos os lugares. (...) Não devemos esquecer que, da primeira vez que as imprimimos, a máquina impressora chegou a quebrar duas vezes".
Esta oração foi indulgenciada pelo Papa São Pio X no dia 8 de julho de 1908. Recomenda-se que seja aprendida de cor.


LADAINHA À SÃO MIGUEL ARCANJO

Senhor, tende piedade de nós; 
Jesus Cristo, tende piedade de nós; 
Senhor, tende piedade de nós. 
Jesus Cristo, ouvi-nos; 
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós; 
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus, tende piedade de nós; 
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós; 
Trindade Santa, que sois um único Deus, tende piedade de nós.

Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós; 
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, luz dos anjos, rogai por nós; 
São Miguel, baluarte dos cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, nosso príncipe, rogai por nós; São Miguel, nosso advogado, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, atendei-nos, Senhor; 
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor; 
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo, para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oração: Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bênção sempre nova e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do céu e a trocar os bens do tempo pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos.




14 agosto 2017

São Maximiliano Maria Kolbe, O Cavaleiro da Imaculada

Um santo para nossos dias: utilizando os progressos técnicos a serviço da Fé, montou um portentoso apostolado pela imprensa para difundir a devoção a Maria. E ainda morreu mártir da caridade, como sempre desejou


Sobre a trágica morte de São Maximiliano Kolbe no campo de extermínio de Auschwitz, muito se sabe e se comenta. Menos conhecida, entretanto, é sua existência cheia de inteligentes e ousados empreendimentos apostólicos, fruto de um espírito de grandes horizontes iluminado por entranhada devoção à Virgem Santíssima.

Talis vita, finis ita,1 diz um conhecido adágio romano. Se Maximiliano teve, no fim da sua existência, o heroico gesto que o conduziria ao martírio, foi porque Maria Imaculada o inspirou. E ele soube corresponder inteiramente, já desde menino, a tão bela e elevada vocação.

Nascido na era do progresso

A Polônia dos anos finais do século XIX e iniciais do XX, como toda a Europa e a América, achava-se em plena prosperidade material. A sociedade de então se deliciava na euforia e no esplendor da Belle Époque, na fartura e no conforto, mais preocupada com o gozo da vida do que com o que se relacionava com a Religião. O laicismo dominava as mentes e os costumes.

Nesse contexto histórico, nasceu Raimundo Kolbe, em 8 de janeiro de 1894, na cidade polonesa de Zdu?ska Wola, recebendo no mesmo dia as águas batismais. Seus pais, Júlio Kolbe e Maria Dabrowska, eram lídimos cristãos e devotíssimos da Virgem Maria. De seus cinco filhos, dois faleceram quando ainda crianças, e os outros três abraçaram a vida religiosa.

Uma visão que deu rumo à sua vida

Criança muito viva e travessa, Raimundo recebeu certo dia uma repreensão de sua mãe que lhe marcou a vida:

– Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?

Essas palavras calaram fundo na alma do pequeno. Ficou aflito e pensativo. Queria mudar de vida e recorreu a Nossa

Senhora. Ajoelhado aos pés de uma bela imagem da igreja paroquial, perguntou-Lhe:

– Que vai acontecer comigo?

Qual não foi sua surpresa, quando lhe apareceu a Mãe de Deus, trazendo em Suas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha. Sorrindo maternalmente, perguntou-lhe qual escolhia. A branca significava que perseveraria na castidade e a vermelha, que seria mártir. Grande alma, ele escolheu as duas.

A vocação religiosa

Nasceu-lhe, então, por graça da Imaculada, a vocação religiosa. Decidiu ser capuchinho franciscano, e aos 14 anos começou os estudos em ?ód?, no seminário menor dos frades conventuais, junto com seu irmão Francisco.

Aos 16 anos, foi admitido no noviciado, escolhendo o nome de Maximiliano, em honra do grande mártir africano. Quiçá pensasse já em seu futuro…

No ano seguinte, pronunciou os votos simples. Por sua privilegiada inteligência, decidiram os superiores mandá-lo para a Cidade Eterna, a fim de continuar os estudos no Colégio Seráfico Internacional, dos franciscanos, e em seguida cursar filosofia na famosa Universidade Gregoriana.

Ouvindo falar das especiais dificuldades que havia para se manter a pureza na Roma de então, o jovem frade pediu para não ir. Mas, em nome da santa obediência, partiu para a Capital da Cristandade onde, além de completar seus estudos, fez sua profissão solene a 1 de novembro de 1914, acrescentando ao seu nome religioso o de Maria, a Virgem Imaculada.

Começam os anos de luta

Em Roma, Maximiliano chocou-se com a insolência com que os inimigos da Igreja a atacavam, sem a proporcionada reação dos católicos. Resolveu então entrar na luta antes mesmo de receber a ordenação presbiteral. Reunindo em torno de si seis condiscípulos, fundou em 1917 a associação apostólica Milícia de Maria Imaculada, cujos estatutos começavam por declarar seus objetivos: a conversão dos pecadores, inclusive dos inimigos da Igreja, e a santificação de todos os seus membros, sob a proteção de Maria Imaculada. Nela aceitou apenas jovens destemidos e verdadeiramente dispostos a acompanhá- lo nessa empresa, com o título de Cavaleiros de Vanguarda.

Sua sede de almas ficou gravada nas atas de sua ordenação sacerdotal, que se deu em 28 de abril de 1918. Na manhã seguinte, quis celebrar sua primeira Missa no altar da Madonna del Miraccolo, na igreja de Sant’Andrea delle Fratte, porque aí se dera o célebre episódio com Afonso Maria Ratisbonne: ante a aparição da Santíssima Virgem, ajoelhara-se judeu e levantara católico, numa conversão miraculosa e instantânea, em 1842. E na agenda das Missas de seus primeiros dias de sacerdote, o padre Kolbe escreveu que queria celebrar o Santo Sacrifício para “impetrar a conversão dos pecadores e a graça de ser apóstolo e mártir”.2

Progresso a serviço da Fé

Voltando à Polônia em 1919, esteve internado em um sanatório devido a sérios problemas de saúde. Tão logo se restabeleceu, fundou o jornal mensal da sua associação – Cavaleiro da Imaculada – pondo o progresso técnico do seu tempo em matéria gráfica, a serviço da Fé.

Na véspera do lançamento, reuniu os operários, colaboradores e redatores – ao todo 327 pessoas -, e passaram o dia em jejum e oração. Nessa noite, foi organizada uma grande vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento e de oração à Santíssima Virgem, para que abençoassem esse empreendimento. Na noite seguinte, as rotativas imprimiram o primeiro número do jornal, “filho” dessas orações. Um grande impulso à sua obra ocorreu em 1927, quando o príncipe João Drucko-Lubecki cedeu ao padre Maximiliano um terreno situado a 40 quilômetros de Varsóvia. Aí, homem de grandes horizontes, começou ele a construir uma Niepokalanów – Cidade de Maria. Planejava a edificação de um enorme convento e novas instalações de sua obra de imprensa. Com que dinheiro? “Maria proverá – dizia o santo varão – este é um negócio dEla e de seu Filho!”.

E não foi defraudado em sua confiança. Em 1939, o jornal tinha já a surpreendente tiragem de um milhão de exemplares, e a ele se haviam juntado outros dezessete periódicos de menor porte, além de uma emissora de rádio. A Cidade de Maria contava então com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 seminaristas menores e 82 candidatos ao sacerdócio. Nela habitavam também médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros e cozinheiros, além de um corpo de bombeiros.

O que alimentava o dinamismo de sua obra apostólica era a sólida piedade incutida por ele nos seus discípulos. Sua mola propulsora era o amor entusiasta e militante a Maria Imaculada, da qual ele se sentia, mais do que um escravo, uma simples propriedade. E na Eucaristia estava a fonte da fecundidade de seus empreendimentos. Instituiu a Adoração Perpétua em Niepokalanów, e ele mesmo iniciava todos os seus trabalhos com um ato de Adoração ao Santíssimo Sacramento.

Incursão pelo Oriente

Em seu anelo de expandir por todo o orbe sua obra evangelizadora, decidiu fazer uma incursão pelo Oriente, pois queria editar sua revista nos mais diversos idiomas para atingir milhões de almas em todo o globo. Aspirava ter uma Cidade de Maria em cada país.

De início, conseguiu fundar uma em Nagasaki, no Japão. Em 1930, a Niepokalanów japonesa dispunha já de uma tipografia onde foram impressos os primeiros dez mil exemplares de Cavaleiro da Imaculada no idioma dos samurais. Até os dias de hoje, mantém-se ali sua obra apostólica, com trabalhadores nativos e numerosos sacerdotes.


Mais tarde, antes dos trágicos acontecimentos da Guerra, contou a seus religiosos uma graça mística que recebera em terras nipônicas. Graça quiçá decisiva para sua fortaleza nas atribulações pelas quais teve de passar. No refeitório da Cidade de Maria, depois de um jantar, disse-lhes: “Eu vou morrer e vocês vão ficar. Antes de me despedir deste mundo, quero deixar- lhes uma lembrança […], contando- lhes algo, pois minha alma está transbordando de alegria: o Céu me foi prometido com toda segurança, quando estava no Japão. […] Lembrem-se disso e aprendam a estar prontos para os maiores sofrimentos”.3

A Segunda Guerra Mundial

Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Cidade de Maria ficou muito exposta a riscos, pois se situava nas imediações da estrada de Potsdam a Varsóvia, rota provável de uma eventual invasão das tropas nazistas. Motivo pelo qual a prefeitura de Varsóvia ordenou sua pronta evacuação. Padre Maximiliano conseguiu lugar seguro para todos os irmãos, mas permaneceu ali, com cinquenta de seus colaboradores mais imediatos.

Em setembro, as tropas invasoras levaram-nos presos para Amtitz. Mas na festa da Imaculada, dia 8 de dezembro, foram todos libertados e voltaram para sua Niepokalanów, transformando- a em refúgio e hospital para feridos de guerra, prófugos e judeus.

Retomaram também o labor apostólico, pois os invasores permitiram ao padre Kolbe continuar com suas publicações, à espera de um pretexto para acabar com seu apostolado. Com grande coragem, escreveu ele no último número de Cavaleiro da Imaculada, as seguintes palavras, de admirável honestidade intelectual e integridade de convicções: “Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos derrotados no mais profundo de nossas almas?”.4

A propósito disso, em fevereiro de 1941, a Gestapo irrompeu na Cidade de Maria e levou presos o padre Kolbe e outros quatro frades, os mais anciãos. Na prisão de Pawiak, em Varsóvia, foi submetido a injúrias e vexações, e depois trasladado para o campo de extermínio de Auschwitz.

No campo de Auschwitz

Começaram para o santo mártir as estações de sua via-crucis. Passou a primeira noite numa sala com outros 320 prisioneiros. Na manhã seguinte, foram todos desnudados, lavados com jatos de água gelada e recebendo cada qual uma jaqueta com um número. Coube-lhe o 16.670. Quando o oficial viu seu hábito religioso, ficou irritado. Arrancando com violência o Crucifixo de seu pescoço, gritou-lhe:

– E tu acreditas nisto?

Ante a categórica resposta afirmativa, deu-lhe uma “valente” bofetada! Por três vezes repetiu a pergunta e por três vezes o santo religioso confessou sua Fé, recebendo o mesmo bestial ultraje. A exemplo dos Apóstolos, São Maximiliano dava graças a Deus por ser digno de sofrer por Cristo: “Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus” (At 5, 41). Maria não o abandonou um instante sequer.

Ao entrar no campo de concentração, os guardas faziam uma revista minuciosa em todos os prisioneiros e lhes tiravam todos os objetos pessoais. Entretanto, o soldado que revistou o padre Kolbe devolveu-lhe o Rosário, dizendo:

– Tome seu Rosário. E vá lá para dentro! – Era um sorriso de Nossa Senhora, como a dizer-lhe que estaria com ele a cada momento.

Martírio no “‘bunker’ da morte”

São bem conhecidos os demais episódios que se deram no campo de Auschwitz: o comportamento do santo sacerdote franciscano, sua incansável atividade apostólica, em cada bloco para onde era mandado, etc.

No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Tendo um deles conseguido fugir, dez outros, escolhidos por sorteio, foram condenados ao “bunker da morte”: um subterrâneo onde eles eram jogados desnudos, e permaneciam sem bebida nem alimento, à espera da morte.

Ante o desespero daqueles infelizes, São Maximiliano ofereceu-se para ficar em lugar de um deles, pai de família, e foi aceito por ser sacerdote. O ódio dos esbirros ao religioso era notório, mas ficaram estupefatos ao verificar até onde pode chegar a coragem, a fortaleza e o heroísmo de um padre católico, em cuja fisionomia se revelava um varão na força do termo. Sem dúvida, movia-o uma autêntica caridade para com seu conterrâneo, entretanto, outra razão também elevada o levou a tomar essa decisão: o desejo de ajudar aqueles condenados a terem uma boa morte, salvando suas almas.

Fechado o bunker, estava para sempre encerrado para eles o contato com o mundo exterior. Naquelas terríveis horas sem outra expectativa que a da morte, tratava-se de cada qual pôr em ordem sua consciência. Pode-se imaginar qual seria o medo da morte, do Juízo, do sofrimento, a tentação de desespero… Em tal situação, que privilégio poder ter por companheiro um sacerdote santo! Graças a ele, o bunker da morte se converteu em capela de oração e de cânticos… com vozes cada dia mais débeis. Três semanas depois, restavam vivos apenas quatro. Julgando que aquela situação se prolongava demasiado, decidiram as autoridades aplicar-lhes uma injeção letal de ácido muriático.

Padre Kolbe foi o último a morrer naquele pavoroso subterrâneo. Estendeu espontaneamente o braço para a injeção. Alguns momentos depois, um funcionário do campo o encontrou morto “com os olhos abertos e a cabeça inclinada. Seu rosto, sereno e belo, estava radiante”.5

Cumprira sua última missão: salvara a si próprio e aos demais. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Assunção de Maria.

A inspiração de sua vida foi a Imaculada

E no dia 10 de outubro de 1982, na Praça de São Pedro, uma multidão de mais de duzentas mil pessoas ouvia um Papa, também polonês, declarar mártir esse sacerdote exemplar que não só morreu para salvar uma vida, mas, sobretudo, viveu para salvar muitas almas. Ele que jamais se cansava de dizer: “Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade”.6

Pois, como afirmou João Paulo II ao canonizá-lo, “a inspiração de toda a sua vida foi a Imaculada, a quem confiava seu amor a Cristo e seu desejo de martírio”.7  (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2009, n. 92, p. 34 à 37)

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1 Conforme tenha sido a vida, assim também será a morte.
2 LLABRÉS Y MARTORELL, Pere- Joan. San Maximiliano María (Raimundo) Kolbe. Año Cristiano. Madrid: BAC, 2005, vol. 8, p.454.
3 KALVELAGE, FI, Pe. Francis M. Kolbe - Saint of the Inmaculate. Minnesota: Park Press, 2001, p. 77-78.
4 MLODOZENIEC, OFMConv, Fr. Juventino. Conheci o bem-aventurado Maximiliano Maria Kolbe. Exemplar mimeografado no Jardim da Imaculada, Missão Católica de São Maximiliano Kolbe. Cidade Ocidental, Goiás, 1980.
5 LLABRÉS Y MARTORELL, Op. cit., p. 459.
6 Idem, p. 456.
7 Homilia na Missa de canonização, 10/10/1982.


Fonte:
http://revistacatolica.com.br/ensinamentos/historia-dos-santos/sao-maximiliano-maria-kolbe/

08 agosto 2017

9º dia Novena Meditativa sobre Santa Benedita da Cruz (Edith Stein)


NOVENA MEDITATIVA SOBRE SANTA EDITH STEIN
SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ
9º dia da NOVENA – Hino ao Espírito Santo, de Edith Stein


Num clima místico, poucos meses antes da sua deportação para Auschwitz, nasce uma das mais belas orações de Edith Stein, Santa Benedita da Cruz. Um hino ao Espírito Santo. Foi o seu «último pentecostes».

I

Quem és tu, Doce luz que me preenche e ilumina a obscuridade do meu coração?
Conduzes-me como a mão de uma mãe; E se me soltasses, não saberia nem dar mais um passo.
És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si. Se Fosse abandonado por ti,
cairia no abismo do nada, de onde tu o elevas ao Ser.
Tu, mais próximo de mim que eu mesmo, e mais íntimo que minha intimidade,
E, sem dúvida, permaneces inalcançável e incompreensível,
E que faz brotar todo nome: Espírito Santo — Amor eterno!

II

Não és Tu, O doce maná,
que do coração do Filho flui para o meu, alimento dos anjos e dos bem aventurados?
Aquele que da morte à vida se elevou, Também a mim despertou a uma nova vida
Do sono da morte. E nova vida me doa
Dia após dia. E um dia me cumulará de plenitude.
Vida de minha Vida. Sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, – Vida Eterna!

III

Tu és o raio, que cai do Trono do Juiz eterno
e irrompe na noite da alma, que nunca se conheceu a si mesma?
Misericordioso e impassível, penetras nas profundezas escondidas.
Se ela se assusta ao ver-se a si mesma, Concedes lugar ao santo temor,
princípio de toda sabedoria, que vem do alto,
e no alto com firmeza nos unes à tua obra, que nos faz novos,
Espírito Santo — Raio penetrante!

IV

Tu és a plenitude do Espírito, e da força
com a qual o Cordeiro rompe o selo, do segredo eterno de Deus?
Impulsionados por ti, os mensageiros do Juiz
cavalgam pelo mundo, e com espada afiada separam
o reino da luz do reino da noite. Então surgirá um novo céu
E uma nova terra, e tudo retorna ao seu justo lugar
graças a teu alento: Espírito Santo — Força triunfante!

V

Tu és o mestre construtor da catedral eterna, que se eleva da terra aos céus?
Por ti vivificadas as colunas se elevam, Para o alto e permanecem imóveis e firmes.
Marcadas com o nome eterno de Deus, se elevam para a luz
sustentando a cúpula, que cobre, qual coroa,
a santa catedral, tua obra transformadora do mundo,
Espírito Santo — Mão criadora!

VI

Tu és quem criou o claro espelho, Próximo ao trono do Altíssimo,
como um mar de cristal, aonde a divindade se contempla amando?
Tu te inclinas, sobre a obra mais bela da criação,
e resplandecente te ilumina, com teu mesmo esplendor.
E a pura beleza de todos os seres, Unida à amorosa figura da Virgem,
tua esposa sem mancha: Espírito Santo — Criador do Universo!

VII

Tu és o doce canto do amor, e do santo recato,
que eternamente ressoa, diante do trono da Trindade,
e desposa consigo os sons puros de todos os seres?
A harmonia, que une os membros com a Cabeça,
onde cada um encontra feliz, o sentido secreto de seu ser,
e jubilante irradia, livremente desprendido em teu fluir:
Espírito Santo — Júbilo eterno!


Fonte:





07 agosto 2017

8º dia Novena Meditativa sobre Santa Benedita da Cruz (Edith Stein)



NOVENA MEDITATIVA SOBRE SANTA EDITH STEIN
SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ
8º dia da NOVENA – «Edith Stein, mestra de espiritualidade» - Entrevista com o carmelita Jesus Castellano


ROMA, sexta-feira, 26 de março de 2004 (ZENIT.org).- Edith Stein (1891-1942), judia, filósofa, mártir, carmelita santa e co-patrona da Europa, considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o padre carmelita Jesús Castellano, ocd, que nesta sexta-feira pela tarde ministra uma conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano (Itália).

«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma. O padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia, liturgia e espiritualidade.

--Podemos considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano II?

Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a abadia de Beuron, onde o abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.

Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa, como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo. Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.

--Por que não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?

Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de João da Cruz. Seus escritos são numerosos.

Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo, sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.

--Edith, antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a oração litúrgica com a oração pessoal?

--Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência.

Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só.

E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos.

--É exagero ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?

--Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque de delicadeza e de profundidade.

A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith, sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.

--O que é a espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?

--Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.

--O que ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?

--Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do futuro.

Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja. No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia eclesial e pelo decoro das celebrações. Edith Stein contribuiu em tudo isto com a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos mistérios.

(26 de Março de 2004) © Innovative Media Inc.

Fonte:




06 agosto 2017

7º dia Novena Meditativa sobre Santa Benedita da Cruz (Edith Stein)



NOVENA MEDITATIVA SOBRE SANTA EDITH STEIN
SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ
7º dia da NOVENA – CARTA DO PAPA SÃO JOÃO PAULO II PROCLAMANDO SANTA EDITH STEIN COMO CO-PADROEIRA DA EUROPA


CARTA APOSTÓLICA
EM FORMA DE "MOTU PROPRIO"
PARA A PROCLAMAÇÃO 
DE SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA, 
SANTA CATARINA DE SENA
E SANTA BENEDITA DA CRUZ 
CO-PADROEIRAS DA EUROPA
JOÃO PAULO PP. II
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA

 (...)

8. Com Edith Stein Santa Teresa Benedita da Cruz encontramo-nos num diferente ambiente histórico-cultural. De facto, ela conduz-nos ao centro deste século atormentado, apontando as esperanças por ele acesas, mas também as contradições e as falências que o caracterizaram. Edith não provém, como Brígida e Catarina, de uma família cristã. Nela tudo indica o tormento da procura e a fadiga da "peregrinação" existencial. Mesmo depois de ter alcançado a verdade na paz da vida contemplativa, ela teve de viver o mistério da Cruz até ao fundo.

Nasceu em 1891 de uma família hebraica de Breslau, que nessa época era território alemão. O gosto que ela desenvolveu pela filosofia, abandonando a prática religiosa inspirada pela sua mãe, ter-lhe-ia sugerido, mais que um caminho de santidade, uma vida conduzida pela nota do puro "racionalismo". A graça, porém, aguardava-a nos meandros do pensamento filosófico: tendo percorrido o caminho da corrente fenomenológica, ela soube recolher a instância de uma realidade objetiva que, ao invés de reconduzir ao sujeito, precedia e determinava o conhecimento, devendo ser examinada com um rigoroso esforço de objetividade. É necessário escutá-la, fixando-a sobretudo no ser humano, devido àquela capacidade de "empatia" expressão que lhe era muito querida que permite, de certo modo, incorporar o que é vivido pelos demais (cf. E. Stein, O problema da empatia).

Foi nesta tensão de escuta que ela se encontrou, por um lado com os testemunhos da experiência espiritual cristã oferecida por Santa Teresa de Ávila e de outros grandes místicos, dos quais se tornou discípula e propagadora, e por outro lado com a antiga tradição do pensamento cristão, consolidada no tomismo. Por este caminho ela chegou primeiro ao baptismo e, depois, à escolha da vida contemplativa na Ordem carmelitana. Tudo se desenrolou no contexto de um itinerário existencial bastante movimentado, marcado não só pela busca da vida interior, mas pelo empenhamento no estudo e no ensino, que ela realizou com dedicação admirável. Foi de grande apreço, sobretudo no seu tempo, a sua obra a favor da promoção social da mulher, e são realmente penetrantes as páginas com as quais ela explorou a riqueza da feminilidade e a missão da mulher do ponto de vista humano e religioso (cf. E. Stein, A mulher. A sua tarefa, segundo a natureza e a graça).

9. O encontro com o cristianismo não foi motivo para ela repudiar as suas raízes hebraicas; pelo contrário, ajudou-a a redescobri-las em plenitude. Isto, porém, não lhe poupou a incompreensão por parte dos seus familiares. Sobretudo a desaprovação da própria mãe lhe causou uma dor intensa. Na verdade, todo o seu caminho de perfeição cristã se distinguiu não só pela solidariedade humana para com o seu povo de origem, mas também por uma verdadeira partilha espiritual com a vocação dos filhos de Abraão, designados pelo mistério da chamada e dos "dons irrevogáveis" de Deus (cf. Rm 11, 29).

De modo particular, ela fez próprio o sofrimento do povo judeu, na medida que este aumentava naquela feroz perseguição nazista que permanece, juntamente com outras graves expressões do totalitarismo, uma das mais obscuras e vergonhosas manchas da Europa do nosso século. Sentiu então que, no extermínio sistemático dos judeus, a cruz de Cristo era carregada pelo seu povo, e assumiu-a na sua pessoa com a sua deportação e a execução no tristemente célebre campo de Auschwitz-Birkenau. O seu grito funde-se com o de todas as vítimas daquela horrível tragédia, unido porém ao brado de Jesus, que assegura ao sofrimento humano uma misteriosa e perene fecundidade. A sua imagem de santidade permanece para sempre ligada ao drama da sua morte violenta, ao lado de tantos que a padeceram juntamente com ela. E permanece como um anúncio do evangelho da Cruz, com o qual ela se quis identificar no seu mesmo nome de religiosa.
Hoje, vemos Teresa Benedita da Cruz reconhecer no seu testemunho de vítima inocente, por um lado a imitação do Cordeiro imaculado e a protesta levantada contra todas as violações dos direitos fundamentais da pessoa e, por outro, o penhor daquele renovado encontro de judeus e cristãos, que na linha auspiciada pelo Concílio Vaticano II, está a conhecer uma prometedora fase de abertura recíproca. Declarar hoje Edith Stein co-Padroeira da Europa significa colocar no horizonte do velho Continente um estandarte de respeito, de tolerância e de hospitalidade que convida os homens e as mulheres a entenderem-se e a aceitarem-se, para além das diferenças étnicas, culturais e religiosas, formando assim uma sociedade verdadeiramente fraterna.

(...)

Dado em Roma, junto de São Pedro, a 1 de Outubro de 1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.

 IOANNES PAULUS PP. II

Fonte:





"Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da Luz" Rm 13,12
CEFAS, oriundo do nome de São Pedro apóstolo, significa também um Acróstico: Comunhão para Evangelização, Formação e Anúncio do Senhor. É um humilde projeto de evangelização através da internet, buscando levar formação católica doutrinal e espiritual.