01 janeiro 2009

Cristianismo - Sacramento do cuidado de Deus aos homens

Hoje quero lhes falar de uma experiência humana aparentemente tão simples, mas que encontra no coração de Deus sua beleza de ser o que é: a experiência do cuidado. Antes, porém, permitam-me dizer-lhes o quanto é interessante notar que o cuidado é também uma marca singular mesmo do deserto onde a vida parece ter perdido sua seiva. É curioso e ao mesmo tempo bonito saber que mesmo ali há tempos em que a natureza favorece o florescer, permitindo que as flores manifestem sua beleza, seu sorriso... Sim, porque no deserto também chove de vez em quando, e então germinam as sementes que os ventos trouxeram de todos os pontos. É a natureza cuidando daquilo que lhe pertence, daquilo que lhe foi confiado. Tudo se torna um mundo de flores! Variadas, aproveitando de cada cantinho mais defendido para se proteger e poder exibir a beleza de suas corolas e de seus cálices. E, particularmente acredito que o principal dessa beleza é justamente o contraste com a aridez do deserto.

Minha gente aí descubro uma porção de lições, muito oportunas, sobretudo quando somos convidados a repetir em nossa vida de cristãos a experiência do cuidado de Deus. A primeira lição é não descrer nem do deserto dos corações aparentemente inóspitos, impenetráveis, ou mesmo marcado pelo sofrimento das durezas da vida. Há ali segredos de fertilidade escondidos, esperando, quem sabe uma boa semente para acolhê-la e deixá-la germinar. O segredo da colheita passa pelo exercício do cultivo e do cuidado... Ah, não podemos deixar nos escapar a confiança, a espera. Aliás, a outra lição, deste aprendizado com o deserto é justamente o empenho de difundirmos sempre a boa semente da confiança. Um crédito de confiança, de espera, poderá ser o principio de uma regeneração. E aqui reside, portanto, a expressão máxima do cuidado de Deus. Porque o Cristianismo é isso. Não há relação saudável com Deus se não descobrimos constantemente essas duas realidades em nossa vida: o cuidado e a confiança. Em todas as situações humanas há sempre uma parcela de cuidado a ser recebida e uma parcela de confiança a ser exercitada. Nossa relação com Deus o caminho também se dá por essas duas vias.

Outro ensinamento é que com razão, o grande poeta latino Horácio observava que “o cuidado é o permanente companheiro do ser humano”. Quer dizer: o cuidado sempre nos acompanha, porque nunca haveremos de amar alguém e nos desvelar por ele; nunca deixaremos de nos preocupar e nos inquietar por essa pessoa amada, se não passarmos pelo crivo do cuidado. Martin Heidegger, tido por muitos como "o filósofo do cuidado", diz também que sem cuidados deixamos de ser humanos. E para conseguirmos compreender o ser humano, precisamos enxergá-lo a partir da ótica do cuidado.

Neste sentido, vale a gente se debruçar sobre o valor que o cuidado assume em sua origem semântica, quando encontramos que em latim, cuidado significa cura. Em seu sentido mais antigo, cura era um termo muito usado no contexto das relações humanas de amor e de amizade, onde se pretendia expressar a atitude do cuidado, da preocupação e da inquietação pelo objeto ou pessoa amada. Cura, isto é, o cuidado seria o mesmo que pensar no outro, colocar nele sua atenção, mostrar interesse por ele e revelar por ele uma atitude amorosa. Aqui fica claro, portanto que o cuidado somente surge quando passo a dedicar-me ao outro; quando me disponho a participar de suas buscas, de seus sofrimentos, suas conquistas, enfim, de sua vida, fazendo seus desertos florir.

É belo saber então que uma vida pautada pelo dinamismo salvífico do Cristianismo é justamente uma vida que também experimenta do coração de Deus um processo semelhante às compreensões de cuidado elaboradas por aquele poeta clássico e pelo filósofo contemporâneo. A diferença, contudo é que Deus é o próprio cuidado. E o Cristianismo é a face do seu cuidado, revelação do seu amor... Encontrar-se com este cuidado é encontrar-se com olhar que nos reinaugura. Quantas relações humanas perderam seu sabor porque as pessoas não conseguem mais reinaugurar umas às outras, não conseguem mais cultivar o cuidado entre si. Na nossa vida de cristão, porque somos cuidados por Deus, somos neste cuidado configurados, de maneira que passamos a ser na vida daqueles que encontramos sacramentos do cuidado de Deus, sinais de seu Amor cuidadoso. O mundo carece de ver a face do cuidado de Deus. Eis, portanto nossa vocação!!!

Grato, Jerônimo Lauricio

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