São Tomás de Aquino nos ensina que "uma hierarquia é uma chefia, i.é., uma multidão ordenada, do mesmo modo, sob o governo de um chefe"1. A palavra chefia abrange duas coisas: o chefe e o povo governado por ele.
Deus é o chefe de todos os anjos, dos homens e de toda criatura. Por isso, em uma só hierarquia estão todos os anjos e toda criatura racional, que possa ser participante das coisas sagradas,2 "conforme a expressão de Agostinho: há duas cidades, i. é, duas sociedades; uma dos anjos bons e dos homens; outra, a dos maus"(apud2).
Assim, "Deus é governador"3. E, em seu governo, dois elementos devem ser considerados: o plano do governo e a execução. Quanto ao plano de governo, "Deus governa imediatamente todas as coisas"4. Quanto à execução, "governa certos seres mediante outros"4 "como um mestre"4, que não só comunica a ciência aos seus discípulos, mas também os faz mestres de outros4, de modo que umas criaturas atuem sobre outras 5.
Foi por vontade divina que Ele não fez ótimas "cada uma das criaturas, mas uma melhor que outra"6. São Tomás de Aquino nos dá uma bela explicação dessa decisão do Criador em instituir muitos graus nas criaturas:
Foi por vontade divina que Ele não fez ótimas "cada uma das criaturas, mas uma melhor que outra"6. São Tomás de Aquino nos dá uma bela explicação dessa decisão do Criador em instituir muitos graus nas criaturas:
"Deus é o agente perfeitíssimo. Por isso, cabia-lhe introduzir nas coisas criadas de modo perfeitíssimo a sua semelhança, conforme a conveniência da coisa criada. Mas a perfeita semelhança as coisas criadas não podem conseguir em uma só espécie de criatura (...) a criatura não se pode igualar a Deus. Foi, pois, necessário ter havido multiplicidade e variedade nas coisas criadas, para que nelas houvesse, a seu modo, perfeita semelhança de Deus"7
Além disso, quanto mais uma coisa é semelhante a Deus em muitos aspectos, tanto mais ela se aproxima da perfeição de Deus. Ora, em Deus há bondade e a difusão da bondade nas outras coisas. Por isso, uma coisa criada mais perfeitamente se aproxima da semelhança de Deus, se não só é boa mas também pode produzir sua bondade nas outras não absorvendo a bondade em si mesma.(...) ora, se não houvesse pluralidade e desigualdade nas coisas criadas, não poderia uma coisa levar a bondade a outras"(...) Por conseguinte, para que houvesse nas criaturas a perfeita imitação de Deus, foi necessário que nelas se encontrasse muitos graus"7
Além disso, muitos bens são melhores do que um só bem finito, pois aqueles contêm este e ainda mais. Ora toda bondade da criatura é finita e, ainda, falha em comparação com a bondade infinita de Deus. Por isso, será mais perfeito o universo das criaturas se há muitos do que se houvesse um só grau nas coisas. Ora cabe ao Sumo Bem fazer o que há de melhor. logo, lhe foi conveniente instituir muitos graus nas criaturas."8
Assim, na hierarquia dos bem-aventurados anjos e homens há vários graus. Devido ao fato de que os anjos receberem as iluminações divinas diferentemente do ser humano, como visto na postagem sobre as características dos anjos, é
preciso diferenciar a hierarquia humana da angélica2.
Veremos a partir de agora a hierarquia angélica. Na Idade Média,foram muitas as propostas de classificação dos anjos em hierarquia. São Tomás de Aquino cita duas: a de Gregório e de Dionísio, que "distribuem os graus das ordens angélicas diferentemente, quanto aos Principados e às Virtudes, e, no mais, do mesmo modo."11. Assim:
- Dionísio: Serafins, Querubins, Tronos; Dominações, Virtudes, Potestades; Principados, Arcanjos e Anjos.
- Gregório: Serafins, Querubins, Tronos; Dominações, Principados, Potestades; Virtudes, Arcanjos e Anjos.
São Tomás considera as duas formas congruentes porque as duas têm fundamento bíblico:
"ambas essas disposições podem se apoiar na autoridade do Apóstolo (Ef 1, 20) que, enumerando as ordens médias de maneira ascendente, diz, que Deus o constituiu, i. é, Cristo, à sua mão direita no céu, acima de todo o Principado, e Potestade, e Virtude, e Dominação; onde põe a Virtude entre a Potestade e a Dominação, conforme a distribuição de Dionísio. Mas, noutro passo, enumerando as mesmas ordens, de maneira descendente, diz (Cl 1, 16): quer sejam os Tronos, quer as Dominações, quer os Principados, quer as Potestades, tudo foi criado por ele e para ele; onde coloca os Principados como médios entre as Dominações e as Potestades, conforme a distribuição de Gregório."11
Eu optei pela classificação de Dionísio para fundamentar esta e as próximas postagens sobre a hierarquia dos anjos, pelo fato de haver disponibilidade, na internet, do livro do mesmo, de modo que os interessados possam aprofundar seu conhecimento na obra do autor.
Desta forma, os puros espíritos estão divididos em três ordens ou hierarquias, as quais estão subdivididas também em três ordens, de acordo com os diversos atos e ofícios, conforme nos explica São Tomás de Aquino1, ao fazer uma comparação com as diversas ordens de uma cidade.
Desta forma, os puros espíritos estão divididos em três ordens ou hierarquias, as quais estão subdivididas também em três ordens, de acordo com os diversos atos e ofícios, conforme nos explica São Tomás de Aquino1, ao fazer uma comparação com as diversas ordens de uma cidade.
"embora sejam muitas as ordens de uma mesma cidade, todas, contudo, podem reduzir-se a três, por ter qualquer multidão perfeita princípio, meio e fim. Por onde, há tríplice ordem de homens na cidade: uns são os supremos, como os nobres; outros, ínfimos, como o baixo povo; outros, médios, como o povo honrado. Assim, pois, em qualquer hierarquia angélica, as ordens se distinguem segundo os diversos atos e ofícios; e toda essa diversidade se reduz a três ordens: a suma, a média e a ínfima. E por isso, em cada hierarquia, Dionísio coloca três ordens."Essas três ordens, segundo Dionísio, são: "na primeira hierarquia, como mais elevados, os Serafins; como médios, os Querubins, e os Tronos, como últimos. Na hierarquia média, as Dominações, como primeiros; as Virtudes, como médios; e as Potestades, como últimos. Na última, por fim, os Principados, como primeiros; os Arcanjos, como médios; e os Anjos, como últimos."
"O anjo inferior é superior ao homem mais elevado, em a nossa hierarquia, conforme aquilo da Escritura (Mt 11, 2): O que é menor no reino dos céus, é maior do que ele, i. é, do que João Baptista, do qual entre os nascidos de mulher não se levantou outro maior. Por onde, o anjo menor da celeste hierarquia pode não só purificar, mas iluminar e aperfeiçoar, e de modo mais alto do que as ordens da nossa hierarquia. "1
A sabedoria de Deus "comanda toda a ordem da criação e governo do mundo"9 e Deus chama "todos os seres para entrarem em comunhão com Ele na medida da capacidade de cada um."(cap VIII)10 "Para cada um dos membros da hierarquia a perfeição consiste em imitar a Deus o melhor que puder, tornando-se “cooperadores” Dele"(CapIII)10.
Nas próximas postagens, abordaremos mais detalhadamente as três hierarquias angélicas, começando pela superior (Serafins, Querubins e Tronos).
Nas próximas postagens, abordaremos mais detalhadamente as três hierarquias angélicas, começando pela superior (Serafins, Querubins e Tronos).
Até lá!
Notas
2. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Tratado sobre a conservação e o governo das coisas, questão 108, artigo 1. Disponível em: http://permanencia.org.br/dru
3. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Tratado sobre a conservação e o governo das coisas, questão 103 artigo 5. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/3832
4. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Tratado sobre a conservação e o governo das coisas, questão 103 artigo 6. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/3833
5. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Tratado sobre a conservação e o governo das coisas, questão 104 artigo 2 . Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/3837
6. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Tratado sobre a obra dos seis dias, questão 47, artigo 2. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/790
7. São Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, capítulo XLV, página 242
8. São Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, capítulo XLV, página 243
9. Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 216, . Disponível em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2c1_198-421_po.html
10. Pseudo Dionísio, Da Hierarquia Celeste. Disponível em: http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/hier_celeste_s_dinis.htm
11.São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, Da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens, questão 108, artigo 6. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/2049
Autoria: Betania Tavares
Desconheço o autor da Imagem.
Muito interessante o artigo. Obrigada!
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