06 outubro 2017

Brevíssima história do Rosário




Dia 7 de Outubro é o dia de Nossa Senhora do Rosário. Por isso fiz um levantamento para quem desejar conhecer a história desta santa devoção. Abaixo trago um texto com um brevíssimo resumo da história e no final indico alguns links e livros para quem deseja aprofundar. O Rosário foi construído ao longo de anos de tradição mística, não nasceu completo como o conhecemos hoje num dia só, por uma única pessoa. Conhecer sua história é valorizar a riqueza da nossa Santa Tradição.




Por João César das Neves (Professor UCP):

"O Nascimento do Rosário O Rosário é uma oração cuja origem se perde nos tempos. A tradição diz que foi revelado a S. Domingos de Gusmão (1170-1221), numa aparição de Nossa Senhora, quando ele se preparava para enfrentar a heresia albigense. Parece não haver muitas dúvidas de que o Rosário nasceu para resolver um problema importante dos novos frades mendicantes. De facto, os franciscanos e dominicanos estavam a introduzir um novo tipo de ordem religiosa no século XII, em alternativa aos antigos monges, sobretudo Beneditinos e Agostinhos. Estes, nos seus mosteiros, rezavam todos os dias os 150 salmos do Saltério. Mas os mendicantes não o podiam fazer, não só por causa da sua pobreza e estilo de vida, mas também porque em grande parte eram analfabetos. Assim nasceu, nos dominicanos, o Rosário, o “saltério de Nossa Senhora”, a “Bíblia dos pobres”, com 150 Avé-Marias.

Mas é preciso dizer que, nessa altura, não havia ainda a Ave Maria. Já desde o século IV se usava a saudação do arcanjo S. Gabriel (Lc 1, 28) como forma de oração, mas só no século VII ela aparece na liturgia da festa da Anunciação como antífona do Ofertório. No século XII, precisamente com o Rosário, juntam-se as duas saudações a Maria, a de S. Gabriel e a de S. Isabel (Lc 1, 42), tornando-se uma forma habitual de rezar. Em 1262 o Papa Urbano IV (papa de 1261-1264) acrescenta-lhes a palavra “Jesus” no fim, criando assim a primeira parte da nossa Ave Maria. Só no século XV se acrescenta a segunda parte de súplica, tirada de uma antífona medieval. Esta fórmula, que é a actual, torna-se oficial com o Papa Pio V (1566-1572). Grande reformador no espírito do concílio de Trento (1545-1563), S. Pio V é o responsável pela publicação do Catecismo, Missal e Breviário Romanos surgidos do Concílio, que renovam toda a vida a Igreja. Foi precisamente no Breviário Romano, em 1568, que aparece pela primeira vez na oração oficial da Igreja a Avé-Maria.

A Batalha de Lepanto e a festa de Nossa Senhora do Rosário O contributo de S. Pio V, um antigo dominicano, para a história do Rosário não se fica por aqui. O grande reformador criou também o último grande momento da antiga Cristandade, a unidade dos reinos cristãos à volta do Papa. Os turcos otomanos, depois do cerco e queda de Constantinopla em 1453, o fim oficial da Idade Média, e das conquistas de Suleiman, o Magnífico (1494-1566, sultão desde 1520), estavam às portas da Europa. Dividida nas terríveis guerras entre católicos e protestantes, a velha Europa não estava em condições de resistir. O perigo era enorme. Além de apelar às nações católicas para defender a Cristandade, o Papa estabeleceu que o Santo Rosário fosse rezado por todos os cristãos, pedindo a ajuda da Mãe de Deus, nessa hora decisiva. Em resposta, houve um intenso movimento de oração por toda a Europa. Finalmente, a 7 de Outubro de 1571 a frota ocidental, comandada por D. João de Áustria (1545-1578), teve uma retumbante vitória na batalha naval de Lepanto, ao largo da Grécia. Conta-se que nesse mesmo dia, a meio de uma reunião com os cardeais, o Papa levantou-se, abriu a janela e disse “Interrompamos o nosso trabalho; a nossa grande tarefa neste momento é a de agradecer a Deus pela vitória que ele acabou de dar ao exército cristão”. A ameaça fora vencida. Este foi o último grande feito da Cristandade. Mas o Papa sabia bem quem tinha ganho a batalha. Para louvar a Vitoriosa, ele instituiu a festa litúrgica de acção de graças a Nossa Senhora das Vitórias no primeiro domingo de Outubro. Hoje ainda se celebra essa festa, com o nome de Nossa Senhora do Rosário, no memorável dia de 7 de Outubro.

A partir de então, o Rosário aparece em múltiplos momentos da vida da Igreja. Já no fresco do Juízo Final, pintado por Miguel Ângelo (1475-1564) na Capela Sistina do Vaticano de 1536 a 1541, estão representadas duas almas a serem puxada para o céu por um Terço. São as almas de um africano e de um asiático, mostrando a universalidade missionária da oração".

A Imaculada Conceição rezou o Terço com Bernadette Soubirous (1844-1879) nas aparições de Lourdes em 1858. O Papa Leão XIII, “Papa do Rosário”, (como lhe chama a recente Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae do Papa São João Paulo II, n.º 8) dedicou mais de 20 documentos só ao estudo desta oração, incluindo 11 encíclicas.

O Beato Bártolo Longo (1841-1926) é um os grandes divulgadores do Rosário, como o refere a recente Carta Apostólica (n.º 8, 15, 16, 36, 43). Antigo ateu, espírita e sacerdote satânico, depois da sua conversão viu na intercessão de Nossa Senhora a sua única hipótese de salvação. Sendo advogado, em 1872 deslocou-se à região de Pompeia por motivos profissionais e ficou chocado com a pobreza, ignorância, superstição e imoralidade dos habitantes dos pântanos. Entregou-se a eles para o resto da vida. Arranjou um quadro da Senhora do Rosário, que fez vários milagres e criou em 1873 a festa anual do Rosário, com música, corridas, fogo de artifício. Construiu uma igreja para essa imagem, que se veio a tornar no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Fundou uma congregação de freiras dominicanas para educar os órfãos da cidade, escreveu livros sobre o Rosário e divulgou a devoção dos «Quinze Sábados» de meditação dos mistérios.

Outro grande momento da divulgação do Terço é, sem dúvida, Fátima. “Rezar o Terço todos os dias” é a única coisa que a Senhora referiu em todas as suas seis aparições. A frase repete-se sucessivamente, quase como uma ladainha, manifestando bem a sua urgência e importância. Na carta do Dr. Carlos de Azevedo Mendes, num dos primeiros documentos escritos sobre Fátima, afirma-se “Como te disse examinei ou antes interroguei os três em separado. Todos dizem o mesmo sem a mais pequena alteração. A base principal que de tudo, o que me dizem, deduzi é «que a aparição quer que se espalhe a devoção do Terço»”

A história do Rosário não pode terminar sem referir um momento decisivo desta evolução. A escolha do Papa João Paulo II de celebrar as suas bodas de prata pontifícias com o Rosário, acrescentando-lhe os cinco mistérios luminosos, é um marco importante na devoção. Mas a ligação do Papa a esta oração não é de hoje, como ele mesmo diz na Carta: “Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de Outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a minha oração predilecta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade.»”(n.º 2)"


(Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/dossier/uma-breve-historia-do-rosario-da-virgem-maria/)



Para um maior aprofundamento recomendo:

O Rosário - A sua origem e a sua intenção primordial - Site dos monges Cartuxos

Livro "A História do Rosário" - Anne Vail - Edições Loyola

Livro "História do Rosário" - Emanuele Giulietti - Editora Paulus

Capítulo sobre uma breve história do Rosário do livro "O Rosário de Nossa Senhora" do Padre João Medeiros Filho

Carta Apostólica Rosrium Virginis Mariae





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