17 fevereiro 2018

Uso de imagens na Igreja





Artigo de Dom Estevão Bettencourt, OSB na Revista “Pergunte e Responderemos”, nº 270, Ano 1983, Pg. 412:

Em síntese: A proibição de confeccionar imagens contida no Antigo Testamento era devida a circunstâncias contingentes da história do povo de Deus; cercado de nações idólatras, Israel tendia ao culto pagão das imagens e a concepções de índole mágica que as imagens poderiam fomentar. De resto, já mesmo no Antigo Testamento o próprio Deus prescreveu a confecção de imagens como querubins, serpente de bronze, leões do palácio de Salomão, etc.

O mistério da Encarnação do Filho de Deus mostrou aos homens uma face visível de Deus, que, além do mais, se quis servir de numerosos elementos sensíveis (imagens, palavras, cenas históricas…) para comunicar a Boa Nova. Os cristãos foram então compreendendo que, segundo a pedagogia divina, deveriam passar da contemplação do visível ao invisível.

As imagens, principalmente os que reproduziam personagens e cenas da história sagrada, tornaram-se a Bíblia dos iletrados ou analfabetos. A controvérsia iconoclasta, inspirada por correntes judaizantes e heréticas nos séculos VIII e IX, terminou com a reafirmação do culto das Imagens no Concílio de Nicéia II (787). Tal culto é dito “de veneração” e é válido na medida em que as imagens representam os santos; não se confunde com adoração.

Os Reformadores protestantes rejeitaram as imagens por causa dos abusos do fim da                  Idade Média; Lutero, porém, se mostrou assaz liberal e tal propósito. Ultimamente entre os luteranos e atitude iconoclasta tem sido submetida a revisão.

As autoridades eclesiásticas católicas tem promulgado normas para se evitarem abusos e erros teológicos na confecção e no culto das imagens.

Comentário: Não raro levantam-se objeções contra o uso católico de confeccionar imagens sagradas, visto que estas parecem proibidos pela Lei de Deus. Com efeito, diz o livro do Êxodo: “Não farás para ti imagens esculpidas, nem qualquer imagem do que existe no alto dos céus, ou do que existe embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, por debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto” (20,4).

Os fiéis católicos sentem-se às vezes em apuros para, diante de tal texto, justificar a praxe católica de venerar imagens. Eis por que, a seguir, abordaremos o assunto: 1) percorrendo mais a fundo a Sagrada Escritura, 2) estudando um pouco a história do Cristianismo e 3) elucidando o sentido que as imagens têm para o povo católico.

A doutrina bíblica
Distinguiremos duas etapas, ou seja, a mensagem do Antigo e a do Novo Testamento.

1.1. No Antigo Testamento
1. O Senhor vedou aos israelitas a confecção de imagens, estátuas, etc., visto que na antiguidade pré-cristã facilmente se atribuía a esses artefatos um caráter religioso; eram considerados pelos pagãos como símbolos em que a Divindade estava presente, ou como a Divindade mesma. Dada essa mentalidade dos povos vizinhos de Israel, o uso de imagens acarretava perigo para a fé monoteísta dos hebreus, que as poderiam ter na mesma conta em que as tinham os idólatras (coisa que de fato se dava quando os israelitas transgrediam o preceito do Êxodo; cf. 2Rs 18,4; Ez 8, 318).

Justamente para evitar a confecção de imagens, o Senhor não tomava forma nem figura quando falava a Israel; apenas fazia notar a sua presença por meio de raios, trovões, etc. Desta maneira subtraía ao seu povo qualquer ponto de apoio para fabricar alguma representação de Deus; o próprio Javé se dignou revelar o motivo da proibição no texto de Dt 4,15, paralelo a Ex 20,4s: “Estai atentos; já que não vistes forma nenhuma no dia em que Javé no Horebe vos falou em meio ao fogo, não prevariqueis e não façais imagem esculpida a representar o que quer que seja”.

Os Profetas foram assaz veementes na rejeição das imagens visto que, de fato, Israel tendia à idolatria; tenham-se em vista os textos de Is 40,18; 44,920; Jr 10,25…

As razões remotas que levavam os antigos a adorar imagens, eram muitas vezes de ordem mágica. Com efeito, julgavam os povos primitivos que a imagem participava da essência do indivíduo representado; a imagem era consubstancial com o indivíduo, ou mesmo a imagem era o próprio indivíduo. Em consequência, quem conseguisse fazer a imagem de um deus, capturava esse deus ou exercia poder e domínio sobre ele; encerrava a força da divindade dentro do respectivo artefato; poderia então dispor da ação poderosa da divindade.

Este fundo de cena, incompatível com a noção elevada e pura de Deus na revelação bíblica, explica adequadamente a proibição do uso de imagens no Antigo Testamento.

Como se vê, a proibição de imagens no Antigo Testamento não implicava oposição entre o visível e o Invisível, entre o material e o espiritual, nem pretendia incutir um culto espiritualizado dirigido diretamente ao Invisível. Muito diverso era o sentido dessa proibição; ela se prendia ao conceito mesmo de Javé e devia incutir que o Senhor era diferente dos deuses dos outros povos; estes podiam ser representados e fixados em determinado lugar, porque eram ficções dos homens; ao contrário, Javé se manifestava livre e soberanamente onde e quando queria, infinitamente acima das forças e dos seres sensíveis, pois Ele é o Criador de todos.

2. Não obstante, em certos casos, tomadas as cautelas contra o perigo de idolatria, o Senhor não somente permitiu, mas até mandou que se confeccionassem Imagens sagradas, a fim de elevar a piedade de Israel.

a) Foi, por exemplo, o que se deu na fabricação da Arca da Aliança: por ordem explícita de Javé, Moisés colocou dois querubins de ouro sobre o Propiciatório da Arca, tendo as asas voltadas para o alto e as faces dirigidas para a placa sagrada de metal; era pelo Propiciatório assim configurado que Javé falava ao seu povo; cf. Ex 25, 1722. Em vista disto, a Bíblia costuma dizer que “Javé está assentado sobre querubins”; cf. 1Sm 4,4; 2Sm 6,2; 2Rs 19,15; Sl 79,2; 98,1.

b) No Templo construído por Salomão, diz o texto sagrado que foram confeccionados querubins de madeira preciosa para ficar junto à Arca da Aliança (cf. 1Rs, 6,2328); e mais: as paredes do Templo foram todas revestidas de imagens de querubins (cf. 1Rs 6,29s). Tais obras se fizeram, sem dúvida, com a ordem ou a aprovação do próprio Deus (cf. 1Cr 22, 813), que, já no deserto, “comunicara a Beseleel o seu espírito – espírito de sabedoria, inteligência e ciência – para realizar toda espécie de obras, para conceber e executar projetos de obras em ouro, prata e bronze … assim como para talhar a madeira” (cf. Ex 31, 15). Vê-se assim com que apreço Deus considerava as esculturas de seu Templo, já mesmo no regime do Antigo Testamento.

c) Durante a travessia do deserto, o povo de Israel foi acometido por serpentes cuja mordedura fez perecer muita gente. Foi então que o Senhor Deus ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze e a colocasse sobre uma haste; todo aquele que, mordido, a contemplasse, seria salvo. Cf. Nm 21, 49.

d) O mar de bronze ou reservatório de água lustral colocado à entrada do palácio de Salomão era sustentado por doze bois de metal, dos quais três olhavam para o Norte, três para o Oeste, três para o Sul e três para o Leste; cf. 1Rs 7, 2326.

e) Havia também entre os ornamentos do palácio régio de Salomão figuras de leões, touros e querubins; cf. 1Rs 7,28s.

Estes textos dão a ver que a proibição de confeccionar imagens não era absoluta no Antigo Testamento, mas condicionada por circunstâncias em que vivia o povo de Israel. A própria Tradição de Israel foi aos poucos interpretando com certa flexibilidade a proibição do Decálogo. Tenham-se em vista, por exemplo, certas sinagogas da Palestina do século III d.C., onde se encontraram afrescos e figuras humanas. Seja citada também a sinagoga de Dura-Europos (à margem do rio Eufrates), na qual estavam representados Moisés diante da sarça ardente, o sacrifício de Aarão, a saída do Egito, a visão de Ezequiel.

1.2. No Novo Testamento
Passaram-se os séculos… O mesmo Senhor que se mantivera invisível, quis tomar corpo humano e viver na terra; quis assim dirigir-se aos homens mediante uma figura (a do Cristo Jesus), que, sem dúvida, devia ser impressionante. Em sua pregação, Jesus houve por bem ilustrar as realidades transcendentais (o Reino de Deus, a Misericórdia do Pai, o dinamismo da graça …) mediante imagens inspiradas pelas realidades visíveis; tal foi o significado das parábolas e alegorias utilizadas pelo Divino Mestre, que aludiu aos lírios do campo, à figueira, aos pássaros do céu, ao bom pastor, à videira e a seus ramos, às crianças que brincam na praça pública, à mulher que perdeu sua moeda, ao administrador infiel, aos operários chamados à vinha…

Ademais a evolução das culturas fez que o ambiente greco-romano fosse menos dado à magia e mais penetrado pela filosofia do que o dos povos primitivos. Isto veio permitir melhor compreensão do alcance da Encarnação do Senhor e das imagens sagradas.

Um pouco de história
Nos primeiros séculos do Cristianismo, ainda se lêem testemunhos de escritores cristãos, que apontam mal entendidos ou abusos por parte dos fiéis no uso das imagens. Outros mostram-se hesitantes quanto à validade do uso das imagens. Tal é, por exemplo, o testemunho de Minúcio Félix no século III: “Que imagem poderia eu confeccionar para representar Deus, dado que o homem mesmo é a imagem de Deus?” (Octavius 32, Patr. Latina, ed. Migne, 3,339a).

“O próprio homem é a imagem viva de Deus”, eis o argumento que Clemente de Alexandria (+ antes de 215) repete, acrescentando ainda um adágio frequente na Igreja antiga: “Viste teu irmão, viste teu Deus” (Stromateis I 19 e II 15, PG 8,812 e 1009).

Todavia os cristãos foram percebendo que a proibição de fazer imagens no Antigo Testamento tinha o mesmo papel de pedagogo (condutor de crianças destinado a cumprir as suas funções e retirar-se) que a Lei de Moisés em geral tinha junto ao povo     de Israel. Por isto o uso das imagens foi-se implantando. As gerações cristãs compreenderam que, segundo o método da pedagogia divina, atualizada na Encarnação, deveriam procurar subir ao Invisível passando pelo visível que Cristo apresentou aos homens; a meditação das fases da vida de Jesus e a representação artística das mesmas se tornaram recursos com que o povo fiel procurou aproximar-se do Filho de Deus.

Considerem-se os antigos cemitérios cristãos (catacumbas), onde se encontram diversos afrescos geralmente inspirados pelo texto bíblico: Noé salvo das águas do dilúvio, os três jovens cantando na fornalha, Daniel na cova dos leões, os pães e os peixes restantes da multiplicação efetuada por Jesus, o Peixe (Ichthys), que simbolizava o Cristo... Nas Igrejas as imagens tornaram-se a Bíblia dos iletrados, dos simples e das crianças, exercendo função pedagógica de grande alcance. É o que notam alguns escritores cristãos antigos: “O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente” (S. Gregório de Nissa, Panegírico de S. Teodoro, PG 94, 1248c).

“O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados” (São João Damasceno, De imaginibus I 17 PG, 1248c).

O Papa São Gregório Magno (􀀀 604) escrevia a Sereno, bispo de Marselha: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).

Nos séculos VIII e IX verificou-se na Igreja a disputa em torno do uso das imagens ou a luta iconoclasta. Por influência do judaísmo, do islamismo, de seitas e de antigas heresias cristológicas, muitos cristãos do Oriente puseram-se a negar a legitimidade do culto das imagens. Os imperadores bizantinos tomaram parte na querela, por motivos políticos mais do que por razões religiosas.

Desencadeada sob o Imperador Leão Isáurico (717741), a controvérsia foi levada ao Concílio de Nicéia II (787), que, na base dos raciocínios de grandes teólogos como São João Damasceno, reafirmou a validade do culto de veneração (não adoração) tributado às imagens. Com efeito; o Concílio distinguiu entre Istréia (adoração), devida somente a Deus, e proskynesis (veneração), tributável aos santos e também às imagens sagradas na medida em que estas representam os santos ou o próprio Senhor; o culto às imagens é, portanto, relativo, só se explica na medida em que é tributado indiretamente àqueles que as imagens representam.

Assim se pronunciaram os padres conciliares: “Definimos … que, como as representações da Cruz …, assim também as veneráveis e santas imagens, em pintura, em mosaico ou de qualquer outra matéria adequada, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus (sobre os santos utensílios e os paramentos, sobre as paredes e de quadros), nas casas e nas entradas. O mesmo se faça com a imagem de Deus Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, com as da … santa Mãe de Deus, com as dos santos Anjos e as de todos os santos e justos. Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais, a se voltar para eles, e lhes testemunhar … uma veneração respeitosa, sem que isto seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus” (sessão 7, 13 de outubro de 787; DenzingerSchönmetzer, Enchridion Symbolorum nº 600s).

É interessante ainda salientar como argumentava o maior defensor das Imagens, que foi São João Damasceno (+ 749): “Como fazer a imagem do invisível? …Na medida em que Deus é invisível, não o represento por imagens; mas, desde que viste o incorpóreo feito homem, fazes a imagem da forma humana: já que o inviável se tornou visível na carne, pinta a semelhança do invisível” (Tratado sobre as imagens I 8 PG 94, 12371240). “Outrora Deus, o Incorpóreo e invisível, nunca era representado. Mas agora que Deus se manifestou na carne e habitou entre os homens, eu represento o “visível” de Deus. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria” (Ibid. I 16 PG 94, 1245s).

A Tradição cristã reconheceu constantemente o valor pedagógico e psicológico das imagens como suportes para a vida de oração. Assim, por exemplo, escrevia Jean Gerson (13631429), mestre de espiritualidade: “Doravante ninguém há tão simples e iletrado que possa desculpar-se de não saber como viver retamente para ganhar o paraíso, quando ele tem diante de si e para si, na representação da cruz e do Crucificado, um livro ilustrado, escrito, ornamentado muito clara e legivelmente, em que todas as virtudes são aprovadas e todos os vícios reprovados” (Moralité de la Passion, em Oeuvres complètes, ad. Glorileux, t. 7, Paris 1966, p. 143).

Santa Teresa de Ávila (􀀀 1582), ao ensinar as vias da oração às suas Religiosas, dizia : “Eis um meio que vos poderá ajudar… Cuidai de ter uma imagem ou uma pintura de Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos contenteis com trazê-las sobre o vosso coração sem jamais a olhar, mas servi-vos da mesma para vos entreterdes muitas vezes com Ele” (Camino de la Perfección, cap. 43,1).

Foi na base dos argumentos atrás aduzidos que se firmou na Igreja Católica a veneração das imagens, a qual nada tem que ver com adoração de alguma criatura ou com idolatria.

Examinamos agora a posição protestante:
Os Reformadores do século XVI reagiram contra os excessos do culto das imagens existente na Idade Média decadente; as suas invectivas provocaram a destruição de muitas imagens. Todavia o próprio Lutero não foi intolerante, mas, de certo modo, liberal no caso, como se depreende do texto abaixo, datado de 1528: “Tenho como algo deixado à livre escolha as imagens, os sinos, as vestes litúrgicas … e coisas semelhantes. Quem não os quer, deixe-os de lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias edificantes me pareçam muito úteis… Nada tenho em comum com os Iconoclastas” (Da Ceia de Cristo).

Calvino, porém, foi mais radical neste particular, como atestam os dizeres seguintes: “Não julgo ilícito representar Deus sob forma visível, porque Ele proibiu que o fizessem e também porque a sua glória é assim desfigurada e sua verdade falsificada. Se não é lícito representar Deus sob forma corpórea, tanto menos será permitido adorar imagem em lugar de Deus ou adorar Deus numa imagem. Por conseguinte, que ninguém pinte ou talhe senão as coisas visíveis ao olho” (Institution de la Religion Chrestianne I, c. 11, nº 12).

A propósito seja lícito observar que não se trata, para os católicos, de adorar imagens, mas apenas de adorar a Deus mediante o estímulo que os sinais visíveis possam oferecer à mente do cristão. Este, sendo psicossomático, é sempre sustentado por elementos sensíveis, mesmo quando exerce os atos da mais elevada espiritualidade.

A tradição protestante permaneceu avessa às imagens até os últimos tempos. Recentemente, porém, novas vozes aí se fizeram ouvir, como se pode depreender das Atas do VIII Congresso Evangélico de Arte Sacra realizado em Karlsruhe (Alemanha) no ano de 1956. Duas teses bem distintas se defrontaram nos debates: a) os Reformados (calvinistas) defendiam a opinião, tradicional entre os protestantes, de que as imagens não contrárias à Escritura Sagrada e acarretam o perigo de idolatria; b) Os luteranos, porém, replicaram que o preceito de Cristo mandando aos discípulos pregar o Evangelho em todas as línguas, inclui também o uso da linguagem figurada do artista (pintor ou escultor). Lembravam que a Bíblia se serviu de imagens, palavras de sentido metafórico, para exprimir verdades divinas; Cristo mesmo falou em metáforas variadas, de sorte que o pintor protestante Rembrandt não hesitou em pintar cenas dos Santos Evangelhos. Acrescentavam os luteranos que quem, com Lutero, reconhece na música o veículo apto da fé e do amor aos cristãos, não pode deixar de reconhecer também nas representações óticas aptíssimo instrumento para exprimir a verdade revelada.

Por que admitir, de um lado, as impressões auditivas visuais? Estas parecem ainda mais eficientes do que aquelas (documentação colhida no semanário “Der christiche Sonntag”, Herder, 14 Oktober 1956, 327). Assim é que a antiga cláusula de Ex 20,4, dada ao povo de Deus ainda muito rude, vai sendo, entre os próprios protestantes, mais e mais interpretada à luz do conjunto da Revelação, que é toda irradiada pela Encarnação do Filho de Deus.

Resta dizer breve palavra sobre:
A vigilância da Igreja
As imagens, lícitas como são, podem sempre acarretar o perigo de exageros e abusos na piedade católica. Consequentemente, as autoridades eclesiásticas, ao mesmo tempo que aproveitam a veneração relativa das mesmas, têm exercido controle sobre os tipos de imagens utilizadas no culto cristão; nunca poderão ser inspiradas unicamente pelo esteticismo ou pela devoção popular exuberante, fantasista.

Assim é que o Papa Urbano VIII em 1629 condenou a representação da Santíssima Trindade sob a forma de um tronco humano com três cabeças (monstruosidade!). Em 1745 Bento XIV rejeitou a cena de três pessoas humanas sentadas uma ao lado da outra para significar a Trindade Divina. Uma das principais razões dessas reprovações é que o Espírito Santo nunca apareceu sob forma humana; a Igreja quer que a arte cristã, para representar as Pessoas Divinas, só reproduza elementos mediante os quais estas aparecem na história sagrada ou na Bíblia: assim ao Filho será de todo oportuno atribuir figura humana; ao Espírito Santo só convém os símbolos da pomba (tenha-se em vista o batismo de Jesus, em Mt 3,16) ou das línguas de fogo (cf. a narrativa de Pentecostes, em At 2,3); quanto ao Pai Eterno, é representado por um Dedo ou uma Mão, sinais de ação e poder (note-se a expressão de Jesus em Lc 11,20: “Se é pelo Dedo de Deus que expulso os demônios …”) ou pelo tipo de um Ancião, consoante a profecia de Dn 7,9, que vê o Filho do homem adiantando-se em direção de venerável e antigo Varão de cabeleira branca, sentado sobre um trono.

De modo especial, com vistas à catequese, os Bispos franceses promulgaram certas diretrizes que devem orientar a confecção de imagens para crianças:
Não desejáveis as imagens que eduquem a fé, isto é, que façam pensar nas realidades sobrenaturais e despertem autênticos sentimentos de fé e de piedade; as imagens que levem em conta as reações da criança, e não as dos adultos;
as imagens que sejam concebidas dentro de certa preocupação com estética e não sejam feudo de alguma escola particular; as imagens que não apresentem pormenores inúteis aptos a desviar do essencial a atenção das crianças; as imagens que utilizem cor e movimentação, a fim de melhor prender a atenção e o interesse das crianças; todavia, sem exageros.
Não desaconselhadas as imagens que tratem o invisível com os mesmos traços concretos das realidades visíveis; assim os anjos configurados, sem mais, a seres humanos; as imagens que sejam capazes de impressionar e agradar, mas não suscitem sentimentos de fé e de piedade; por exemplo, aquelas que apresentam os personagens sagrados com semblante de boneca ou com expressionismo humano carregado demais, como são as imagens da Virgem SS. em geral e as de S. João Evangelista na última ceia produzidas por certos artistas do Renascimento (século XVI); as imagens que as crianças não possam facilmente compreender, por serem demasiado abstratas.

São condenadas as imagens que transmitam falsa noção da realidade, como, por exemplo, a do Menino Jesus pregado à Cruz ou detido no tabernáculo do altar ou imagens muito sentimentais; as imagens que contribuam, na mente das pessoas simples, para ridicularizar algum personagem sagrado, algum mistério da fé ou os ritos da Liturgia. Cf. La Documentation Catholique 15/09/1057.

Estas normas, sábias e prudentes como são, merecem plena atenção, visto que as imagens são veículo de instrução do povo de Deus. Sejam, pois, plenamente conformes à mensagem que elas devem transmitir.

Em conclusão: verifica-se que o culto de veneração relativa atribuído às imagens foi sendo paulatinamente integrado no patrimônio da vida da Igreja; tem o seu fundamento no mistério da Encarnação do Filho de Deus, que evidenciou o caráter provisório da proibição do Êxodo e a utilidade de representações sensíveis para o bom desempenho da catequese e o estímulo da oração. Não seria cristão recusar a arte na medida em que ela pode ser via de acesso a Deus.

Por conseguinte, a Igreja proclama: nem o Iconoclasmo nem o culto supersticioso e mágico das imagens. A cada cristão toca pessoalmente fazer o uso das imagens que melhor corresponda às suas disposições e necessidades pessoais: enquanto uns são altamente beneficiados por representações sensíveis, outros as dispensam quase por completo. Na verdade, as imagens são um meio, não um fim. Todavia que ninguém negue a legitimidade do uso moderado e teologicamente fundamentado das mesmas!”





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