Esboço biográfico de Santa Brígida por Dom
Estêvão Bittencourt
Brígida
(Birgitta) nasceu em 1302 ou 1303, de família pertencente à casa régia da
Suécia. Seu pai, o cavaleiro Birger Persson, era senador do reino e governador
(«lagman») da principal província do pais (Upland). Os genitores de Brígida
eram profundamente piedosos, entregando-se assiduamente a leituras sagradas, ao
jejum e a peregrinações.
Após
uma peregrinação a Compostela (Espanha), Ulf, com o consentimento da sua
esposa, resolveu entrar no mosteiro cisterciense
de Alvastra (Suécia), onde pouco depois veio a morrer (1344). — Tendo
enviuvado, dizem os biógrafos que Brígida tomou consciência dos desígnios de
Deus a seu propósito: ela haveria de se tornar a esposa e a confidente do
Senhor Jesus. Passou então a viver numa casa das dependências da Abadia de
Alvastra. Assim começou para ela uma nova fase de vida, fase caracterizada por
revelações.
Em
1345/1346 foi à corte da Suécia para exortar o rei e a rainha a uma vida cristã
cada vez mais fervorosa; não hesitava em dar conselhos políticos ao monarca
Magnus Eriksson, visando torná-lo mais e mais o «Rex Iustus» preconizado pelos
ideais da Idade Média: recomendou-lhe, entre outras coisas, uma campanha de
evangelização para converter os russos. Admoestava os nobres e os clérigos da
Suécia ao cumprimento exato dos deveres. Em seu zelo apostólico, chegou a
abraçar o cenário da Europa inteira; enviou, sim, o bispo sueco Hemming de Abbo
à França e à Inglaterra, a fim de entregar aos respectivos reis as cartas em
que ela os exortava a cessar a calamitosa guerra dos Cem Anos. Ao Papa Clemente
VI e a seus sucessores imediatos, que residiam em Avinhâo (França), dirigiu
repetidas intimações para que voltassem a Roma, tendo em vista os perigos de
vassalagem a que os Pontífices estavam sujeitos na França. Diz-se também que
Brígida foi frequentemente agraciada por revelações referentes aos personagens
e aos povos com quem ela tomava contato em suas viagens (têm especial
importância as visões concernentes às rainhas Joana de Nápoles e Isabel de
Chipre).
Em 1346 decidiu fundar
em Vadstena, perto de Alvastra, um mosteiro que dava origem à Ordem Religiosa
do Santíssimo Salvador. O cenóbio apresentava uma modalidade usual na Idade
Média; era um «mosteiro duplo», baseado no modelo do que Roberto de Arbrissel
havia estabelecido em Fontevrault (França) no ano de 1100: cada qual desses
mosteiros compreendia duas comunidades (uma masculina, outra feminina), que
viviam separadamente em recintos e clausuras independentes, mas obedeciam à
única direção da Sra. Abadessa. Na Ordem do SS. Salvador cada comunidade
feminina contava 60 Religiosas e a Sra. Abadessa, ao passo que as comunidades
masculinas constavam de 13 sacerdotes, dois diáconos, dois subdiácarios e oito
Irmãos conversos; assim o número total de irmãos e irmãs equivalia ao dos treze
Apóstolos (incluído São Paulo) e setenta e dois discípulos do Senhor Jesus.
Em 1349 Brígida foi a
Roma, movida principalmente pelo desejo de obter da Santa Sé a aprovação de seu
mosteiro duplo. Acontecia, porém, que desde o IV Concílio do Latrão (1215) a
Santa Igreja proibia a fundação de novas Ordens Religiosas dotadas de Regras
próprias e não era favorável aos mosteiros duplos (estes não deixavam de
oferecer grandes riscos espirituais aos membros de ambas as comunidades, apesar
da reta intenção que os inspirava: monges e monjas, vivendo tão estritamente
associados entre si, visavam apenas prestar uns aos outros uma assistência
religiosa mais eficaz, a fim de se elevarem mais facilmente à perfeita união
com Deus e à santidade). Finalmente o Papa Urbano V em 1370 aprovou as
Constituições da Ordem do SS. Salvador, determinação esta que seu sucessor
Urbano VI. (em 1378) confirmou e explicitou. No seu período áureo, a Ordem
chegou a contar 79 casas, mas teve que desaparecer, quando a Santa Sé houve por
bem extinguir os mosteiros duplos.
De
Roma, Brígida não voltou à sua pátria: terá recebido ordem divina de lá
permanecer até que o Sumo Pontífice regressasse de Avinhão. Alojou-se em uma
casa que lhe foi posta à disposição por uma de suas amigas romanas; essa
mansão, posteriormente dita «Casa de Santa Brígida», foi durante toda a Idade
Média um centro escandinavo em Roma; em torno de Brígida formou-se um grupo de
fiéis chamados «os amigos de Deus» (sacerdotes, assim como varões e mulheres do
laicato, destacando-se Catarina, a própria filha de Brígida); levavam regime de
vida monacal, distribuindo o seu tempo entre oração, estudo e visitas aos
santuários da cidade; observavam rigorosa pobreza, pois Brígida ficava à mercê
de seus amigos romanos, o que a obrigava por vezes a ir mendigar junto às
portas das igrejas. Era bem conhecida e geralmente estimada pelos seus
concidadãos; não obstante, a sanha popular voltava-se de quando em quando
contra essa estrangeira severa e exigente como se fôra «a bruxa do Norte»
(Brígida não se intimidava diante de quem quer que fosse, desde que se tratasse
de reprimir o vício).
Muito amiga das
peregrinações, em 1371 partiu para a Terra Santa, onde foi agraciada por visões
correspondentes aos lugares que visitava e relativas principalmente ao
nascimento e à Paixão do Senhor. Pouco depois de voltar a Roma, faleceu aos 23
de julho de 1373. Foi canonizada pelo Papa Bonifácio IX em 1391, tomando-se
particularmente famosa por suas «Revelações», que passamos a considerar de
perto.
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