Sobre as orações de Santa Brígida – (Dom
Estêvão Bittencourt)
3. As orações ditas «de
Santa Brígida»
1. A partir do séc. XV,
começou a difundir-se com grande aceitação uma série de quinze orações
referentes à Paixão de N. S. Jesus Cristo e atribuídas a Santa Brígida. No
prefácio que acompanha essas fórmulas, lê-se a seguinte explicação:
Era sua
Paixão dolorosa o Senhor terá recebido 5460 ferimentos; por conseguinte, a fim
de os venerar dignamente, poderia o fiel cristão recitar diariamente as quinze
orações, acrescentando-lhes outros tantos «Pai Nosso» e «Ave Maria»; terá
assim, no decorrer de um ano, saudado cada uma das chagas do Redentor. A quem
adote essa prática; são prometidos vários favores: na sua família, quinze
pessoas serão libertadas do purgatório, quinze pecadores se converterão e
quinze justos serão confirmados no bem; o próprio orante irá crescendo na sua
vida interior, obterá o reconhecimento de todos os seus pecados e a contrição
perfeita; receberá a S. Eucaristia quinze dias antes de morrer e será salvo;
Cristo mesmo, em companhia da Virgem SS., virá buscar a sua alma e levá-la para
o céu. — Se alguém tiver vivido durante trinta anos em estado de pecado mortal,
e, não obstante, tiver recitado ou ao menos tiver feito o propósito de recitar
devotamente as referidas orações, receberá o perdão de suas culpas, obterá do
Senhor tudo que pedir, inclusive a prolongação de sua vida caso esteja nas
proximidades da morte! — Mais ainda: quem ensinar essas orações a outros, terá
o mesmo mérito que aquele que as recitar. Em todo lugar onde tais preces sejam
proferidas, Deus há de proteger os homens contra os perigos das inundações e dos
incêndios. Veja-se «Orationes XV D. Birgittae de Passione Domini ad
vetustissima exemplaria diligenter correctae, Prologus», documento editado em
Veneza (1535) juntamente com as «Meditações de S. Bernardo» («Divi Bernardi
Meditationes devotissimae ac alia quaedam eius- dem et aliorum pia opuscula»).
Vistas as crendices
supersticiosas sugeridas por tal prefácio, compreende-se que a S. Congregação
do índice, por decreto de 30 de junho de 1671, tenha proibido as quinze orações
de S. Brígida «nisi deleatur prologus», a não ser que se cancele o respectivo
prefácio (o texto de tais preces em si nada tem de herético; é, ao contrário,
belo e piedoso).
2. Quanto ao Rosário
dito «de S. Brígida», recebeu, sim, a aprovação da S. Igreja. Contudo só por
equivoco é atribuído à Santa (os documentos mais antigos referentes a esta
devoção datam do começo do séc. XVI). Destina-se a honrar os 63 anos que
presumidamente a Virgem SS. terá passado na terra; por isto divide-se em seis
partes, cada uma das quais compreende 1 Credo, 1 «Pai Nosso» e 10 «Ave Maria»;
para terminar, recitam-se mais 1 «Pai Nosso» (que completa o número 7 das Dores
e das Alegrias de Maria SS.) e 3 «Ave Maria», que perfazem o total de 63 «Ave
Maria» correspondentes à duração da vida terrestre de Maria.
Pergunta-se:
por que terá sido essa maneira de orar associada ao nome de Santa Brígida? Em
resposta, goza de probabilidade a explicação seguinte: S. Brígida julgava que a
Virgem SS. passou quinze anos na terra após a Ascensão de Jesus; este número,
somado aos quinze anos que, conforme os medievais, Maria devia ter quando Jesus
nasceu, assim como aos trinta e três anos da vida de Cristo, levava a um total
de 63 anos. — Sem dúvida, tal cálculo é muito arbitrário e inconsistente.
É supersticiosa e
condenável a seguinte prática de piedade que certos folhetos apresentam como
decorrentes das revelações feitas a S. Brígida e S. Elisabete: Cristo, desde o
seu nascimento até a sepultura, terá derramado 61.362 gotas de sangue; por
conseguinte, digam-se diariamente 7 «Pai Nosso» e «Ave Maria» durante doze anos
até preencher o número correspondente ao das gotas de sangue derramadas pelo
Senhor. A quem assim procede, vão prometidas cinco graças extraordinárias,
entre as quais a isenção das penas do purgatório, tanto para o orante como para
os seus familiares até o quarto grau.
É de lamentar, tenha
sido o nome de S. Brígida associado a tais crendices. Não obstante, a Santa
fica sendo figura de primeira grandeza na história da Igreja: coloca-se na
linha das mulheres heroicas (S. Catarina de Sena, S. Joana d'Arc, S. Teresa de
Ávila... ) de que Deus se quis servir para despertar as consciências dos homens
em épocas calamitosas.
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