“Uma excelente maneira de orar é o uso de jaculatórias. No que concerne à oração, é isto uma indústria pessoal. Consistem as jaculatórias em aspirações ou ato de virtude muito breve, os quais, no decurso do dia, segundo as circunstâncias e sem preparação especial, desprendem-se de nossos corações e se elevam a Deus. Tudo pode dar ocasião a esses impulsos da alma: o sofrimento, os prazeres, uma graça obtida ou tentação que nos assalte; o desejo de renovar nossos bons propósitos ou as lembranças do que consiste o ponto do exame particular; uma igreja no caminho; uma imagem de um santo ou ainda a presença de tal pessoa a quem desejamos qualquer bem ou queremos preservar de algum mal; finalmente, o cuidado de aproveitar os muitos instantes de descanso ao longo do dia. Para uma alma amante da oração, muito importa vigiar com calma e prudência a fim de que esses momentos, até agora, os mais das vezes improdutivos, sejam frutuosamente empregados no louvor de Deus. É isso – seja-nos permitida a comparação – uma espécie de comércio por miúdos; mas um negociante avisado não descura os pequenos proveitos, pois que é isto um meio de se enriquecer.
Quem menospreza as pequeninas coisas não é digno das maiores. As jaculatórias são parcelas diminutas, sim, porém parcelas de ouro.
Essa maneira de orar é quase isenta de distrações, pois antes que estas cheguem já as invocações alaram-se céleres a Deus. A prática inteligente das jaculatórias mantém a alma numa disposição propícia à oração. Aquele que se limita a orar apenas quando for necessário, arrisca fazê-lo mal.
Relativamente à prece, essas aspirações são o mesmo que as miríades de pequenos astros cintilantes, para uma noite límpida e serena: ornato e luz, consolo supremo quando a sombra da hora extrema invadir o céu de nossa existência”.
FONTE: A vida espiritual reduzida a três princípios – R. P. Mauricio Meschler, S.J.
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“Rezar não pode ser nunca uma coisa mecânica. Portanto, as jaculatórias devem expressar aspirações e sentimentos sinceros do coração: adoração, amor, gratidão, arrependimento, petições por necessidades ou pessoas, oferecimentos, aceitações, expressões da nossa alegria ou da nossa dor..., enfim, aquilo que, espontaneamente, diz a Deus um coração que tem fé e amor, quando sabe que o tem junto de si.
Na realidade, quase todos dizemos jaculatórias espontaneamente quase sem reparar. Por exemplo: “Obrigado, meu Deus!” (quando recebemos uma alegria ou escapamos de um perigo); “Meu Deus, me ajude!” (quando nos sentimos incapazes de resolver um problema, ou estamos aflitos ou em situação de risco); “Perdão, Senhor”, ou “Jesus, tem piedade de mim” (quando reconhecemos uma falta e nos arrependemos); “Minha Mãe, não me abandone” (quando estamos precisados do aconchego da Mãe de Deus e nossa); “Minha Nossa Senhora!” (quando levamos um susto); “Meu Anjo da guarda, me acompanhe e me proteja” (quando saímos à rua); “São José, meu Pai e Senhor, interceda por mim” (por diversas necessidades ou desejos), etc.; Outra fonte de jaculatórias, inesgotável, é a Bíblia. Colocar exemplos seria interminável, desde versículos dos Salmos (“Senhor, sois Vós quem eu procuro”, “Tende piedade de mim, segundo a vossa grande misericórdia”, “Meu coração está pronto, ó Deus, meu coração está pronto!”...), até as frases que os personagens do Evangelho diziam: “Senhor, se queres, podes limpar-me”, “Senhor, que eu veja!”, “Senhor, eu creio, mas ajuda a minha incredulidade”, “Pai, pequei contra o Céu e contra Ti”, “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador!”, “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”, “Meu Senhor e meu Deus!”... E ainda podemos encontrar um tesouro de jaculatórias na tradição da devoção cristã.
Bastaria pensar, por exemplo, nas numerosas jaculatórias que compõem a Ladainha que se costuma rezar depois do Terço. Podemos resumir essas jaculatórias tradicionais em dois grupos: aquelas que nós escolhemos dos textos litúrgicos da Igreja («Senhor, tende piedade de nós», «Nós vos damos graças por vossa imensa glória» ...), e as que aprendemos da piedade dos santos, dos bons autores espirituais antigos ou modernos e das nossas famílias (Deus abençoe as avós!). Por exemplo: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”; “Sagrado Coração de Jesus, em vós confio”; “Sagrado Coração de Jesus, dai-nos a paz”; “Vinde, Espírito Santo!”; “Doce Coração de Jesus, sede o meu amor. Doce Coração de Maria, sede a minha salvação”; “Jesus, José e Maria, dou-vos o coração e a alma minha”; “Senhor, eu me abandono em Vós, confio em Vós, descanso em Vós”; “Senhor, o que Tu quiseres, eu o amo”; “Jesus, dá-me o amor com que queres que eu te ame”; “Meu Deus, eu te amo, mas ensina-me a amar”.
Mais algumas sugestões práticas. É muito útil associar habitualmente alguma jaculatória a um determinado ato ou objeto. Por exemplo, ao começar o trabalho: “Ofereço-te este trabalho, Senhor”; ou, ao sair de casa, “Jesus, Maria e José, guardai os meus filhos”; ou, ao entrar na Igreja e fazer genuflexão diante do sacrário, “Eu te adoro com devoção, Deus escondido”; ou na elevação da hóstia e do cálice na Missa, “Meu Senhor e meu Deus!”.
Muitas pessoas usam uma “senha” espiritual todos os dias. Neste nosso mundo da informática, todo o mundo sabe o que é uma senha: algo breve que dá “entrada” (ao computador, a um arquivo, ao caixa eletrônico, ao uso do cartão de crédito, etc.). Refiro-me a pessoas que escolhem uma jaculatória para cada dia, como “senha”, como o “lema” daquele dia, pensando que, além de rezá-la bastantes vezes, aquela jaculatória as possa ajudar a ter presente uma virtude que precisam praticar melhor: por exemplo, é o que faz a pessoa que está irritada, quando escolhe como senha para andar com paciência a jaculatória “Rainha da paz, rogai por mim”.
Também pensando na “senha”, acho que vale a pena lembrar-lhe que algumas pessoas escolhem a jaculatória diária de acordo com o que, tradicionalmente, eram as devoções próprias de cada dia da semana. Com algumas variações, essas devoções são as seguintes: Segunda-feira, as almas do Purgatório; Terça, os Anjos da Guarda; Quarta, São José; Quinta, a Eucaristia; Sexta, a Paixão e a Cruz; Sábado, Nossa Senhora e Domingo, a Santíssima Trindade.
É uma tradição que a antiga Liturgia das “Missas votivas” apresentava inclusive oficialmente. Finalmente, se você acompanha os “tempos litúrgicos” e as devoções gerais da Igreja (Quaresma, Páscoa, mês de Maria, novena do Espírito Santo, etc.), sugiro-lhe que escolha como “senha”, nesses tempos, jaculatórias relacionadas com eles. Na Quaresma, atos de dor dos pecados e de reparação; na Páscoa, louvores e atos de fé em Jesus ressuscitado; no Mês de Maio e na Novena da Imaculada Conceição, jaculatórias dedicadas a Nossa Senhora, etc. Naturalmente, as “senhas” de que estamos falando, mesmo sendo muito úteis, não precisam ser exclusivas.
Por isso, um último conselho. Ainda que você decida escolher uma jaculatória para cada dia, reze outras que preferir com liberdade de coração. Procure fazer tudo o que vimos neste capítulo com simplicidade. A sugestão que lhe fiz de possíveis jaculatórias é para ajudar, não para complicar. Não se confunda, aja com liberdade.
Se você me disser que prefere rezar só duas ou três jaculatórias durante todos os dias do ano, vou lhe responder que acho ótimo, se é isso o que lhe ajuda a ter presença de Deus.”
Retirado do livro: Para estar com Deus, Padre Francisco Faus, Editora Cléofas. P.8385
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