07 janeiro 2018

Renúncia a si no "Imitação de Cristo"





Segue abaixo três capítulos marcantes do livro “Imitação de Cristo” sobre a renúncia de si mesmo:



Da consideração de si mesmo

1. Não devemos confiar demasiado em nós mesmos, porque muitas vezes nos faltam a graça e o discernimento.
Pouca luz há em nós, e esse pouco perdemos depressa, por nosso descuido.
Muitas vezes não conhecemos como cegos estamos na alma.
Muitas vezes também agimos mal, e, ainda pior, nos desculpamos.
Às vezes somos levados pela paixão, e julgamos que é o zelo.
Repreendemos nos outros as faltas pequenas e desculpamos as nossas, mesmo as mais graves.
Muito depressa sentimos e nos magoamos com o que sofremos dos outros; mas não pensamos muito em quanto os outros sofrem por causa de nós.
O que bem e retamente examinar suas ações não terá que julgar severamente as alheias.

2. O homem de vida interior antepõe o cuidado de si mesmo a todos os outros cuidados; e com zelo atende a si; com facilidade, se abstém de falar dos outros.
Nunca será homem de vida interior e devoto, se não calar dos outros e tiver especial cuidado de si.
Caso se ocupe totalmente com Deus e contigo, pouco o abalará o que vir à sua vida.
Onde está, quando não está consigo? Qual foi o proveito lembrar-se de tudo, se de você se esqueceu?
Se quiser ter paz e união verdadeira com Deus, deve desprezar tudo o mais, para cuidar de si só.

3. Adiantará, portanto, muito, caso se conserve livre de toda a preocupação temporal; mas muito atrasará, se tiver em estima alguma coisa temporal.
Nada se parecerá grande, elevado, agradável ou digno de aceitação, a não ser somente Deus o u o que a ele se refere.
Tem por vazio qualquer consolação que te vier da criatura.
A alma que deveras ama a Deus despreza tudo o que não é de Deus.
Só Deus, eterno, imenso e que tudo enche, é a consolação da alma, e a verdadeira alegria do coração.

É preciso deixar toda a criatura para poder encontrar o Criador

1. O Discípulo – Senhor, ainda me é necessário muita graça para chegar ao estado em que nenhuma criatura possa me impedir.
Porque, enquanto alguma coisa me prender, não poderei livremente voar a vós.
Aspirava a esta liberdade o profeta quando dizia: “Quem me dera asas como a pomba, para que pudesse voar e descansar?” (Sl 54,7).
Que descanso mais completo que o do homem que só pensa em vós? E quem mais livre que o que nada deseja na terra?
É necessário, pois, que a alma se eleve acima das criaturas, se desapegue totalmente de si mesma para que, assim, arrebatada fora de si, compreenda que vós sois o Criador de todas as coisas e que nenhuma semelhança tendes com as criaturas.
Quando não se desprender assim das criaturas não poderá ocupar-se livremente das
coisas de Deus.
A causa por que hoje há tão poucas pessoas contemplativas é porque são raros os que sabem desapegar-se inteiramente das criaturas e dos bens transitórios.

2. Para isto é necessário uma graça poderosa que levante a alma e a transporte acima de si mesma.
Enquanto não for o homem assim elevado em espírito, desapegado de toda a criatura e perfeitamente unido a Deus, de pouca valia é quanto sabe e quanto possui.
Quem não ama só o único, imenso e eterno bem permanecerá muito tempo no seu estado imperfeito.
Tudo o que não é de Deus é nada, e por nada se deve contar.
Há grande diferença entre a sabedoria do homem iluminado e devoto, e a ciência que o doutor adquire pelo estudo.
Muito mais nobre é a doutrina que flui da influência da graça, que a que se adquire pelo trabalho e esforço do engenho humano.

3. Há muitos que desejam elevar-se à contemplação, mas que não trabalham por adquiri-la.
O que nos impede de chegar a um estado tão ditoso é contemplarem as coisas exteriores e sensíveis, tratando pouco de mortificar o espírito e o coração.
Não sei o que é, nem que espírito nos leva, nem que pretendemos em passar por espirituais, quando empregamos tanto trabalho e cuidado nas coisas indignas e transitórias, e apenas ou quase nunca nos recolhendo de todo a considerar nosso inferior.

4. Grande desventura! Ainda bem não temos entrado em nosso coração já saímos dele para nos ocuparmos em coisas externas, sem fazemos um rigoroso exame sobre as nossas obras!
Não consideramos até onde descem nossos afetos, nem choramos vendo que tudo em nós é impuro.
“Toda a carne tinha corrompido o seu caminho”; eis porque veio o dilúvio (Gn 6,12).
Quando, pois, os nossos afetos interiores estão corrompidos, corrompem necessariamente nossas ações e descobrem assim toda a fraqueza de nossa alma.
Os frutos da boa vida não brotam senão de um coração puro.

5. Pergunta-se de um homem: o que faz ele? Mas não se atende se o fez por virtude.
Averígua-se com cuidado se é valente, rico, formoso, sábio, se é bom escritor, se canta bem, se é hábil em sua profissão; porém pouco se fala se é humilde, manso, paciente, devoto e recolhido.
A natureza não considera senão o exterior do homem; a graça, porém, penetra no seu interior. Aquela muitas vezes se engana, esta espera em Deus para não ser enganada.

Da abnegação de si mesmo e do desapego de toda a cobiça

1. Jesus Cristo – Filho, não pode gozar de perfeita liberdade sem que renuncie inteiramente a você mesmo.
Em escravidão vivem todos os que se amam e buscam a si mesmo. Andam inquietos, ávidos, curiosos, buscando sempre o que ajuda os sentidos e não o que me agrada, nutrindo-se de ilusões e formando mil projetos, que se dissipam.
Tudo que não vem de Deus não pode ser firme e permanente.
Imprima em sua alma esta breve, mas perfeitíssima máxima: “Deixe tudo e achará tudo”. Renuncie a seus apetites e terá sossego.
Medite bem este preceito; e quando o tiver cumprido, saberá tudo.

2. O Discípulo – Senhor, uma piedade tão pura não é obra de um dia, nem brincadeira de meninos; neste breve ditado se encama toda a perfeição da vida religiosa.

3. Jesus Cristo – Filho, não deve fraquejar nem logo perder o ânimo, quando te mostram o caminho dos homens perfeitos; mas antes esforçar-se por chegar a esse estado sublime ou pelo menos aspirar a ele com o desejo.
Oh! Se tivesse chegado a tanto que não amasse a si mesmo, submisso inteiramente à minha vontade e ao prelado que te dei! Então me agradaria sobremaneira e toda a sua vida passaria alegre e sossegada.
Ainda tem muito que deixar: e se não renunciar a tudo por amor a mim não alcançará o que pede.
Para que seja rico, aconselho “que me compre este ouro purificado no fogo”, quero dizer, a sabedoria celestial que pisa aos pés todas as coisas terrenas (Ap 3,18).
Para a possuir, renuncie à sabedoria terrena e a toda a falsa complacência de você mesmo.

4. Já te disse que as coisas mais desprezíveis ao parecer humano se devem comprar com as mais preciosas e altas.
Pois que esta sabedoria celestial, que nenhuma estimação faz de si mesma nem deseja que os outros a estimem, está hoje no último desprezo e quase no esquecimento de todos os homens; e se muitos a honram com a boca, a combatem ao mesmo tempo com as suas obras. Contudo, ela é “aquela pérola preciosa” a tantos escondida (Mt 13,46).

Texto retirado do livro: Imitação de Cristo; Tomás de Kempis; Editora AveMaria.



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