25 março 2022

04 Metanoiá e o Batismo

 



Continuação do post 3


A disciplina da Teologia Moral sempre foi mais direcionada aos confessores. É uma ciência complexa. Se divide em três partes:

  1. Moral Fundamental (fim último, virtudes, consciência, atos humanos, hábitos, vícios, lei moral, pecado, potências operativas, graça, etc)
  2. Moral Especial (Tipo 1: Mandamentos de Deus e da Igreja e/ou Tipo 2: Virtudes teologais e cardeais)
  3. Moral Casuística (que estuda a aplicação da moral em casos concretos).
A proposta deste estudo é analisar os fundamentos essenciais da moral fundamental a partir do Novo Testamento, já que a Sagrada Escritura é a fonte primária da revelação, da teologia.

Duas dificuldades nós encontramos na leitura bíblica: 
  1. Dificuldade vocabular. Dificuldade dos autores usarem as palavras adequadas para descreverem as revelações sagradas. É um trabalho difícil. A inspiração do Espírito Santo não cancela a necessidade dos autores em aplicar as palavras humanas adequadas para explicar as graças, verdades e revelações que estão além dos termos linguísticos limitados. Tentar explicar, às vezes, o inexplicável.
  2. Dificuldade de entender o espírito por trás da letra. Não basta ter acesso aos dados dicionarizados das palavras. A análise etimológica dos termos não é suficiente para explicar adequadamente a revelação. É necessário ter acesso à realidade que permeia o texto. E esse acesso à realidade não é uma realidade qualquer. É uma revelação divina. Que age somente nos que se entregam a Ele. Não basta o estudo crítico, é preciso uma profunda vivência cristã.
Vamos citar como exemplo, a palavra 'Ágape'. Somente analisar os termos da literatura profana para entendimento correto do termo não vai ser suficiente, não vai explicar o uso profundo do termo pela experiência dos apóstolos. Eles trouxeram um recheio teológico novo em tudo o que diziam e faziam, baseado na realidade do Novo Testamento, à realidade espiritual que está acontecendo no coração, na vida de cada cristão e na comunidade, na igreja primitiva.
Somente é o Cordeiro quem abre os selos do livro da vida, segundo nos diz o Apocalipse. Sem Cristo não entendemos nada. 

Temos que considerar também a complexidade de estilo de escrita de cada livro bíblico. Diferentes palavras e termos foram usados para falar da mesma realidade, às vezes, muito difícil de ser explicada. 

Algumas normas no Antigo Testamento caíram e outras não. Porque isso? Não é tão simples responder a essa pergunta, mas não há relativismo nessa questão. Há vários tipos de normas no Antigo Testamentos. Há normas, preceitos rituais e judiciais que caíram de obrigação no cristianismo (mulher com fluxo de sangue considerada impura, preceitos sociais locais direcionados àquele povo específico, etc). Mas os preceitos morais não caíram. Há quem possa pensar que alguns preceitos morais caíram por abolição, mas na verdade sofreram um aperfeiçoamento. O próprio Senhor deixou claro isso no sermão da montanha em Mateus.

Um apontamento importante a se fazer, é que não foi Moisés quem libertou o povo da escravidão. Foi Deus quem substituiu a servidão do povo ao ditador Faraó, para que eles servissem ao Deus vivo. Houve uma troca de servidão. Com uma diferença: o povo seria de Deus e Deus seria do seu povo. Uma relação de mútua doação, posse e entrega.

Nessa relação Deus pede ao israelita para meditar sem cessar o amor a Deus com toda a sua alma, com toda a sua força, de todo o coração. É preciso fazer lembrança contínua e levar aos filhos e toda a geração desse pacto, dessa aliança de amor. Para isso a oração, a declaração diária. É um povo que pertence a Deus e que precisa lembrar constantemente para não esquecer isso.

Após o exílio, o estudo da lei fica reservado apenas a algumas pessoas, autoridades e especialistas. Isso leva a um judaísmo com um moralismo insano. Jesus vai denunciar essa hipocrisia dos fariseus que são fruto direto do monopólio da palavra de Deus na época. Daí nascem as tradições humanas do Talmude e da Cabala.

Jesus não foca nas práticas externas, mas na excelência da prática a partir de dentro. Tem que começar dentro e transbordar fora, e não o contrário. É de dentro que vêm os males. Deve-se começar a tratar de dentro.

A lei, segundo a carta aos Gálatas, foi um educador que nos trouxe até Cristo. A partir de Cristo, quando fomos renovados por sua Graça, a fé imprime a lei em nossa alma, conforme promessa em Jeremias 31,33; Deus gravará sua lei em nossos corações, nossas entranhas. A fé infunde em nós os princípios dessa lei. Em Gálatas 2, 19-20 temos um texto marcante onde nos revela que Cristo é a nossa nova lei, Jesus é a norma, a nova Torá. Ou seja, Cristo é a medida, meu princípio moral.

Em Filipenses 1,27 temos São Paulo nos dizendo que a partir de agora temos que nos comportar de acordo com o evangelho de Cristo. É uma nova vida, uma nova mentalidade, um novo comportamento, uma nova cultura a ser vivida. Isso começa de dentro de cada um e faz uma revolução na sociedade. Em Efésios 1,10 temos também São Paulo nos afirmando que devemos resumir todas as coisas em Cristo, restaurar todas as coisas Nele. 

Cristo é o Ágape em pessoa. Ele capitula a moral e os mandamentos (Rm 13,9). A Eucaristia era chamada de Ágape, ou seja, Cristo é o Amor. Em Hebreus 10,29 temos o alerta de que há um castigo severo a quem der as costas à Cristo, a quem renegar esse amor incrível, gratuito e generoso. Tal ingratidão é algo imperdoável.

A moral do novo testamento é centrada mais nas virtudes do que nos mandamentos. O homem do velho testamento tinha que reprimir suas paixões para cumprir uma lei. O homem do novo testamento tem que libertar-se das amarras desse mundo para exprimir Cristo em sua nova vida.




Continua no post 05


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