05 dezembro 2008

Conselhos do Pe. Cantalamessa ao concluir suas meditações semanais na Zenit


O pregador do Papa conclui seus comentários ao Evangelho dos 3 ciclos litúrgicos


ROMA, sexta-feira, 21 de novembro de 2008 (ZENIT.org).- Como descobrir na Bíblia a Palavra que Deus me dirige neste momento? A esta pergunta responde o Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia, no dia em que Zenit publica seu último comentário sobre a passagem evangélica da liturgia dominical.

Durante três anos, com um ingente trabalho de preparação e redação, o pregador do Papa (tanto de João Paulo II como de Bento XVI) acompanhou os leitores desta agência de informação em sua meditação da palavra de Deus. Terminado o ciclo litúrgico, após ter comentado todas as passagens dominicais litúrgicas, como ele mesmo explica nesta entrevista, deixa o lugar a outros.

E o faz dando conselhos belíssimos para aprender a descobrir a Palavra de Deus ao abrir as páginas da Bíblia.

– Comecemos com a primeira pergunta que os leitores fazem: o que você faz para escrever suas homilias e meditações?

Pe. Cantalamessa: [risos...] O que faço? Leio a Palavra de Deus. Antes de pensar em minhas reflexões, procuro colocar-me diante da Palavra de Deus, buscar qual é a mensagem que neste momento particular em que nos encontramos, em que me encontro, emerge da Palavra de Deus. Em geral, no início, é uma pequena luz, que depois, pouco a pouco, se confirma, se consolida, se compreende melhor através de uma situação ou de um problema atual. Ajuda muito um clima de oração, de escuta do Espírito Santo, pois Ele inspirou a Sagrada Escritura e só Ele sabe explicá-la, aplicá-la ao mundo de hoje.

– O que aconselha a um cristão que quer meditar na Palavra para tirar lições para sua própria vida ou para tomar decisões de vida sob o olhar de Deus?

– Pe. Cantalamessa: Depende em parte do estado de vida, dos deveres desta pessoa. Quando se trata de um uso pessoal da Palavra de Deus, para sua própria vida, o melhor é começar a utilizar a Palavra que a Igreja nos oferece através da liturgia: a liturgia das horas, a missa... Com freqüência, o Senhor, para falar, se serve da escolha da Igreja, das leituras do dia. Escutar com os ouvidos atentos as leituras do dia com freqüência revela uma resposta a um problema particular. Uma palavra parece feita à nossa medida até o ponto de que às vezes se diz: «Isso foi escrito para mim!». Portanto, deve-se valorizar a escolha comunitária, não pessoal, feita pela Igreja na liturgia.

Depois está a escolha pessoal, ou seja, reler as passagens da Escritura que no passado tiveram importância para nós, que nos interpelaram. Com freqüência, o Senhor volta a falar através dos próprios textos para dizer-nos coisas novas e adaptadas às situações que estamos vivendo. Portanto, devem-se valorizar as palavras de Deus que no passado foram para nós indicações importantes.

Há outro meio que é utilizado na Renovação Carismática, ainda que não só nela: consiste em rezar e, depois de fazer um ato de fé, abrir a Bíblia, pensando que se vai encontrar uma resposta do Senhor, ou inclusive, dizendo que se tomará como Palavra de Deus para nós a que cai ante nossos olhos. Não é um meio que a Renovação Carismática inventou hoje. Por exemplo, é o que aconteceu com Santo Agostinho, que no momento crucial de sua conversão, abriu as cartas de São Paulo decidido a tomar como vontade de Deus a primeira passagem que lesse. Tocou-lhe Romanos 13, onde se diz «Nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes», «revistamo-nos das armas da luz». Ao ler a passagem, experimentou como lhe penetrava uma luz e uma serenidade que lhe permitiram compreender que podia viver casto. O mesmo aconteceu com São Francisco de Assis. Quando ainda não sabia o que fazer, foi a uma igreja e abriu três vezes o Evangelho e cada vez caiu em uma passagem que falava do envio dos apóstolos sem bastão, sem bolsa, sem dinheiro, sem duas túnicas. E ele disse: «Isto é o que o Senhor quer para nós». Mas os exemplos se multiplicam até nossos dias. Teresa de Lisieux não sabia o que fazer, abriu a Carta aos Coríntios e nela encontrou sua vocação a ser o coração, a ser a caridade. Eu tive muitas confirmações pessoais e também de outras pessoas que encontraram na Bíblia a Palavra de Deus. Não me canso de repetir um episódio muito interessante. Estava pregando em uma missão na Austrália, e durante o último dia veio ver-me um operário, uma pessoa muito simples, para dizer-me que tinha um problema grave em sua família. Tinha um filho de 11 anos que não estava batizado, pois sua mulher se havia tornado testemunha de Jeová e não queria o batismo. Disse-me: «O que faço? Se o batizo haverá um problema, se não o batizo não posso ficar tranqüilo, pois quando nos casamos nós dois éramos católicos». Eu lhe disse: «Deixe-me refletir esta noite». No dia seguinte, quando chegou, disse-me: «Padre, encontrei a solução. Ontem, quando cheguei a casa, rezei, depois abri a Bíblia e me apareceu o episódio no qual Abraão leva Isaac à imolação. E vi que quando Abraão leva Isaac a imolar, não disse nada à sua mulher». Era um discernimento perfeito, pois, de fato, os rabinos dizem que Abraão não disse nada precisamente para evitar que a mulher o impedisse de obedecer a Deus. Eu mesmo batizei a criança. Naturalmente, é preciso evitar um uso mágico da Escritura, abri-la sem ter rezado. Esta utilização da Escritura só pode ter lugar quando se vive em um clima espiritual de obediência a Deus. Com Deus não se brinca, a Deus não se interroga de brincadeira, se interroga antes de tudo porque se está decidido a fazer o que Ele nos dará a entender.

Como se pode ver, há muitos métodos, desde o público ao mais pessoal, para orientar a própria vida com a Palavra de Deus.

– Há três anos, publicamos suas homilias em nossos sete idiomas e recebemos milhares de mensagens dos leitores que agradecem. O que significou para você esta experiência, este novo púlpito, a internet?

– Pe. Cantalamessa: Foi também uma descoberta para mim, no sentido de que não pensava, e creio que tampouco vocês poderiam pensar, que se daria toda essa acolhida. Depois, ao viajar pelo mundo, também percebi que a maioria dos que não me conheciam pessoalmente, me conheciam através da Zenit, através destes comentários aos Evangelhos. Desde o deserto do Arizona até a África, da Ásia até a França, por toda parte. Por um lado, foi para mim um lindo descobrimento, e creio que para vocês é um alento. Este é hoje um veículo importante para o Evangelho. Há muito mais pessoas do que cremos que buscam estes conteúdos bíblicos, evangélicos, na internet. Alguns sacerdotes os utilizam para preparar a homilia. Não são só de utilidade para quem os lê, pois esta pessoa, por sua vez, os adapta, volta a apresentá-los, não os relê literalmente. São uma semente que cai em muitos corações.

– O que você diz aos leitores de Zenit que agora se sentirão órfãos da sua palavra às sextas-feiras?

– Pe. Cantalamessa: Penso publicar em breve um volume com todos estes comentários, em parte publicados na Zenit e em parte novos ou baseados nos comentários que faço na televisão na Itália. Pediram-me isso. Trata-se de comentários desse estilo: breves, de uma página cada um. Quando forem publicados, os leitores da Zenit saberão. Deste modo, quem quiser poderá voltar a meditar com estes comentários. Mas se vocês podem ter outra pessoa que possa continuar publicando comentários, convido aos leitores a lê-los e escutá-los.

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