Sermões de São Leão Magno sobre as coletas – parte 1
Texto extraído do livro "Sermões" de São Leão Magno da Editora Paulus.
“(...) aquele que alimenta o Cristo presente no pobre, constrói seu tesouro no céu. Reconhece, pois, neste fato, a bondade e o favorecimento da ternura divina que desejou te cumular de bens para que, graças a ti, o outro não passe necessidade e pelo serviço de tuas boas obras o indigente não se preocupe demasiado com sua pobreza, e tu próprio sejas libertado dos teus múltiplos pecados. Ó admirável providência e bondade do Criador que, com uma só ação, quis socorrer a um e a outro.
(...) Exorto-vos e advirto vossa santidade para que cada um de vós se lembre dos pobres e de vós mesmos e que, na medida de vossas possibilidades, reconheçais o Cristo nos indigentes; ele, com efeito, nos recomendou de tal modo os pobres que declarou ser vestido, acolhido, alimentado neles. Ele, o Cristo, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.
(...) qualquer culpa contraída durante a permanência terrestre é apagada pelas esmolas. Com efeito, as esmolas são obras de caridade e sabemos que “a caridade cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).
(...) , a generosidade dos fiéis não é medida pelo peso do dom, mas pela intensidade da boa vontade. Que os pobres também tenham ganho neste intercâmbio de misericórdia e, que eles, sem serem prejudicados, escolham do pouco que possuem alguma coisa que possam dar aos indigentes. Que o rico seja mais generoso em sua oferta, sem que o pobre se sinta inferior em sua disposição. Na verdade, embora se espere maior rendimento de uma semente maior, pode resultar também de semeadura fraca numerosos frutos da justiça. Com efeito, nosso juíz é justo e veraz: não priva ninguém da recompensa devida aos méritos. Assim, ele quer que nós cuidemos dos pobres, a fim de que, no exame da retribuição final, o Cristo nosso Deus outorgue a misericórdia prometida aos misericordiosos. Ele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
(...) Caríssimos, por causa das artimanhas do antigo inimigo, a bondade inefável de Cristo quis que soubéssemos como será o julgamento da humanidade inteira, no dia da retribuição, de modo que, oferecendo no tempo presente os remédios legítimos, não recusando oferecer a reparação aos que caíram, permitindo-lhes, àqueles que há muito eram estéreis, pudessem finalmente tornar-se fecundos, ele decide desta forma prevenir o exame decretado por sua justiça, não permitindo jamais que a imagem do julgamento divino se afaste dos olhos do coração. Com efeito, o Senhor virá na glória de sua majestade, como ele mesmo predisse, e, uma multidão incontável de legiões angélicas o acompanhará, radiante de esplendor. Os povos de todas as nações serão reunidos diante do trono de seu poder e todos os homens nascidos ao longo dos séculos sobre a face da terra se prostrarão na presença do juíz. Os justos serão separados dos injustos; os inocentes, dos culpados; os filhos da misericórdia receberão o reino preparado para eles, apuradas as suas boas obras, enquanto será recriminada aos injustos a dureza de sua esterilidade; e os da esquerda, nada tendo a ver com os da direita, serão enviados, pela condenação do juíz todo-poderoso, ao fogo preparado para os tormentos do diabo e de seus anjos: eles serão associados à pena daquele de quem escolheram fazer a vontade. Portanto, quem não temeria participar destes tormentos eternos? Quem não teria medo dos males que jamais terminarão?
Mas, a severidade uma vez anunciada para que se procure a misericórdia, compete a nós, nos dias atuais, exercer esta misericórdia com generosidade para que cada um, retomando a prática das boas obras, depois de perigosa negligência, torne possível libertar-se desta sentença. Com efeito, é pelo poder do juíz, pela graça do Salvador que o ímpio abandona seus caminhos e que o pecador se afasta do hábito da sua maldade. Que sejam misericordiosos com os pobres aqueles que querem para si o perdão de Cristo. Que estejam prontos para alimentar os pobres, aqueles que desejam chegar à sociedade dos bem-aventurados. Que o homem não seja vil perante outro homem, nem em algum deles seja desprezada aquela natureza que o Criador fez sua. A qual dos necessitados é permitido negar aquilo que Cristo afirma que é dado a ele mesmo? Ajuda-se o companheiro de trabalho e é o Senhor quem diz obrigado. O alimento dado ao pobre é o preço do reino dos céus e aquele que distribuir os bens temporais, torna-se herdeiro dos eternos.
(...) o peso das obras é obtido pela balança da caridade e que quando o homem ama aquilo que agrada a Deus merece ser elevado ao reino daquele de quem ele assume os sentimentos?
(...) Assim, nós exortamos vossa santidade a trazer (...) para as igrejas de vossas regiões, dentre vossos recursos aquilo que aconselha a possibilidade e a vontade, para a distribuição da misericórdia, para que possais merecer a felicidade da qual gozará sem fim “quem pensa no fraco e no indigente” (Sl 40,1). E para percebê-lo, caríssimos, é preciso estar atento com uma incansável caridade, a fim de que possamos encontrar aquele que esconde sua modéstia ou que retém sua vergonha. Com efeito, existem aqueles que coram ao solicitar publicamente aquilo de que precisam e que preferem sofrer mais, em silêncio, sua indigência do que serem confundidos por um pedido público. É preciso pois, percebê-los e satisfazer suas necessidades ocultas a fim de que eles tenham maior alegria nisto do que com a descoberta de sua pobreza e de seu pudor.
Mas, teremos razão de reconhecer no indigente e no pobre a própria pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo que, como diz o Apóstolo, “embora fosse rico, para vos enriquecer com sua pobreza, se fez pobre” (2Cor 8,9). E para que sua presença não nos pareça faltar ele acomodou de tal forma o mistério de sua humildade e de sua glória que nós podemos alimentá-lo nos pobres, ele que nós adoramos como Rei e Senhor, na majestade do Pai: isto nos conseguirá no dia mau a liberação da condenação perpétua, e pelo cuidado dado ao pobre que nós percebemos, seremos admitidos a participar do reino celeste.
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