04 novembro 2017

4º Dia - NOVENA MEDITATIVA A SÃO LEÃO MAGNO



Sermões de São Leão Magno sobre as coletas – parte 2


Texto extraído do livro "Sermões" de São Leão Magno da Editora Paulus.


(...) Na verdade, existe alguma coisa de mais aproveitável para a fé, alguma coisa que convenha melhor à piedade do que ajudar a pobreza dos indigentes, de se preocupar com o cuidado dos doentes, de atender as necessidades dos irmãos e de nos lembrar da nossa própria condição, percebendo as necessidades dos outros? Nesse trabalho aquilo que cada um pode fazer e aquilo que não pode fazer só pode ser verdadeiramente conhecido por aquele que sabe o que doou e a quem. Na realidade, não só temos bens espirituais e dons celestiais porque nos são dados por Deus, como também, as riquezas terrestres e materiais provém de sua própria magnanimidade, de tal modo que, por algum mérito, se poderia perguntar a razão destes bens que ele nos concedeu mais para distribuí-los do que para possuí-los. É preciso, pois, usar esses dons de Deus com justiça e sabedoria, para que a matéria das boas obras não se torne causa de pecado. Com efeito, as riquezas consideradas tanto externamente quanto nelas mesmas, são boas e muito úteis à sociedade humana, desde que estejam em mãos benevolentes e generosas e que não sejam administradas por esbanjador ou por avaro que as dissimule, fazendo-as desaparecer ou escondendo-as de forma que sejam dilapidadas estupidamente.

(...) Embora seja louvável fugir da intemperança e evitar os males que causam desejos vergonhosos, de outra parte muitas grandes personagens não se importam de ocultar os seus recursos, e nadando na fortuna, detestam uma economia vil e sórdida; no entanto, a abundância deles não é feliz, nem digna de aprovação à frugalidade dos outros, se os seus bens servem apenas a eles mesmos; se, por suas riquezas nenhum pobre é socorrido, nenhum doente reconfortado; se pela abundância de suas grandes posses o prisioneiro não experimenta a libertação nem o peregrino o conforto; nem o exilado o auxílio. Desta forma, os ricos são mais miseráveis do que todos os miseráveis. Eles perdem, pois, o retorno que poderiam tornar eterno e, enquanto se entregam à uma alegria passageira e nem sempre livre, não são alimentados por nenhuma justiça nem premiados por nenhuma misericórdia; resplandecentes por fora, são trevas por dentro; ricos em bens temporais, pobres dos bens eternos: tornam, com efeito, sua própria alma faminta e a desonram pela nudez porque eles não conseguiram colocar nada nos tesouros celestes daquilo que guardaram nos celeiros da terra.

Mas pode ser que se encontre algum rico que mesmo não tendo o hábito de socorrer os pobres com a riqueza de seus recursos, observa, no entanto, outros mandamentos de Deus e, dentre os diversos méritos de sua fé e de sua honestidade, acreditam que a falta de uma só virtude lhes será facilmente perdoada. No entanto, esta é tão grande que sem ela todas as outras, até reais, não podem ser úteis. Com efeito, embora alguém possa ser fiel, casto, sóbrio e dotado de outras insígnias mais importantes, se entretanto não for misericordioso, não merece misericórdia: pois, assim fala o Senhor: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Quando, portanto, vier o filho do homem em sua majestade e sentar-se no trono de sua glória, e todas as nações estiverem reunidas, realizar-se-á a separação dos bons e dos maus, porque os que estiverem à direita serão louvados por seus serviços de amor que Jesus Cristo olhará como feitas a ele mesmo? Pois ele que fez sua a natureza do homem, não se distinguiu em nada da humilde condição humana. Mas, o que ele reprovará aos que estiverem à esquerda senão ter negligenciado o amor, a dureza da humanidade e ter recusado a misericórdia aos pobres? Como se à direita não houvesse outras virtudes e à esquerda não houvesse outras ofensas. Na hora deste grande e supremo julgamento será levada em conta tanto a benignidade daquele que reparte seus bens como a impiedade daquele que é insensível, de modo que será considerada como plenitude de todas as virtudes e a outra a suma de todas as omissões, e assim alguns serão introduzidos no reino por causa de um só bem e outros serão mandados para o fogo eterno por causa deste único mal.

(...) Caríssimos, que ninguém se engrandeça se lhe faltarem obras de caridade; nem esteja seguro da pureza de seu corpo, aquele que não se lavar com as esmolas que purificam. Com efeito, as esmolas apagam os pecados, destroem a morte e extinguem a pena do fogo eterno, mas, aquele que estiver vazio de seus frutos, permanecerá estranho à indulgência do retribuinte, de acordo com o que afirma Salomão: “Quem tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não terá resposta” (Pr 21,13). Tobias também, ensinando a seu filho os princípios da piedade, dizia: “Toma de teus bens para dar esmola. Nunca afastes de algum pobre a tua face, e Deus não afastará de ti a sua face” (Tb 4,7). Esta virtude torna proveitosas todas as outras; sua presença vivifica a própria fé, da qual o justo se alimenta e sem as obras é considerada morta; porque da mesma forma que as obras encontram sua razão de ser na fé, a fé demonstra sua força através das obras. Como diz o Apóstolo: “por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas, sobretudo para com os irmãos na fé. Não desanimemos na prática do bem, pois, senão desfalecermos, a seu tempo colheremos” (Gl 6,10.9). Assim, a vida presente é tempo de semeadura e o dia da retribuição, o tempo da colheita, quando cada qual receberá os frutos dos grãos de acordo com a quantidade que tiver semeado. Que ninguém se iluda quanto ao rendimento desta colheita, porque aí serão levadas em conta mais as intenções do que as distribuições; e, será dado pouco por pouco como muito por muito.

E, assim, caríssimos, curvemo-nos às instituições dos apóstolos. Como domingo será o próximo dia de coleta, preparai-vos para uma generosidade voluntária, a fim de que cada um, de acordo com suas possibilidades, participe da sagrada oferenda.

As próprias esmolas e aqueles que serão ajudados por elas implorarão por vós, de modo que possais estar sempre prontos para toda boa obra, em Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina pela infinitude dos séculos. Amém.

(...) Com efeito, é o fato de um coração muito duro não se comover por qualquer miséria que seja dos que sofrem, e, aquele que tendo possibilidade de amenizar, não socorre o aflito, é tão injusto quando não socorre o aflito quanto o que oprime o enfermo; que esperança, então pode restar ao pecador se ele não é misericordioso de modo a também ele receber misericórdia?

Caríssimos, eis porque aquele que não é bom para os outros é, antes, mau para si mesmo, prejudicando sua própria alma, não socorrendo a daquele que ele poderia socorrer.

(...) chore com os que choram e junte seus gemidos aos gemidos dos doentes; que ele divida com os pobres suas riquezas; que ele use seu corpo sadio para se inclinar sobre o doente que está possuído pelo mal; separe entre os seus alimentos, uma parte para os famintos e que ele possa aquecer aqueles que tremem de frio. Aquele que, com efeito, ameniza a miséria temporal do sofredor se livra do suplício eterno do pecador.

(...) E, porque “Deus ama aquele que dá com alegria” (2 Cor 9,7), ninguém se obrigue a dar além de sua possibilidade. Que cada um seja juiz equilibrado entre si e os pobres. Que uma comiseração alegre e segura descarte qualquer falta de confiança; e, aquele que ajuda ao indigente compreenda que está dando a Deus a esmola que distribui. Todas as riquezas, cuja medida não é uniforme, podem ter o mesmo valor se, apesar de quantidades diferentes, o amor não for menor. Com efeito, Deus, que não faz diferença entre as pessoas, recebe igualmente o dom do rico e do pobre: ele sabe o que outorgou ou não a cada um: no dia da recompensa não é a medida das riquezas que será julgada, mas a qualidade das intenções. Por Cristo, nosso Senhor.




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"Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da Luz" Rm 13,12
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